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"Atitude não nos falta!" Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa*

... "O jogo do bicho é invencível. Está, como dizem os viciados, na massa do sangue". Do ‘Dicionário do folclore brasileiro’, de Luis da Câmara Cascudo

17.04.2015  |  653 visualizações
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 10 de abril de 2015


Criativos, lá isso somos. Ou alguém duvida da criatividade de João Batista Viana, Barão de Drummond?

Seu Jogo do Bicho, lançado em 1892, e que era ilegal desde o primeiro sorteio (o que não impediu que logo se espalhasse por este imenso Brasil), apesar da concorrência com todas as modalidades de jogo bancadas pelo governo federal, continua a ser o favorito em nossas ruas e há até cidades onde podemos "fazer nossa fezinha" debitando no cartão de crédito e levar o ticket impresso no bolso.

Guarde o ticket: vale o escrito!

Já no século 21 criamos algo que, se bem explicado em fóruns internacionais, poderá se alastrar pelo mundo. Digo isso porque sei que a corrupção não é brasileira, ela é global desde tempos imemoriais. Em Roma havia corruptos. Em Atenas havia corruptos.

Só que, criativos como o Brasil são pouquíssimos países. Ou vocês conhecem outro lugar com propinas tidas como oficiais? Declaradas, contabilizadas, carimbadas, tudo dentro dos conformes? O Petrolão possibilitou essa espantosa modalidade de propinas.

Ambiciosos e cheios de atitude, apesar da Petrobras estar no olho do furacão, a saga da corrupção continuou. As doações ao PT prescindiram do petróleo e passaram para a área das palavras: o novo caminho era o empresário contribuir com pagamentos para a 'Editora Gráfica Atitude', visando publicidade para suas empresas.

João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, se encarregava do papo com os empresários desejosos de colaborar com o partido. Segundo um dos empresários, Vaccari lhe pediu que "ao invés da realização de doações ao Partido dos Trabalhadores, contribuísse com pagamentos a Editora Gráfica Atitude". A editora já fora multada pelo TSE, o que não foi impedimento algum.

O tesoureiro do PT compareceu à CPI da Petrobrás munido de um habeas-corpus para não ser obrigado a responder perguntas desagradáveis. Desafiou a sorte e com as bênçãos do presidente do PT, continuou no mesmo cargo.

Quero crer que o senhor Vaccari, dessa vez, esticou muito a corda e que agora, ex-tesoureiro do partido, não terá escapatória, mas digo isso com cuidado, pois aqui, neste gigante recém-despertado, tudo parece possível.

Outras criações verde-amarelas começam a pipocar. Por exemplo, a presidente da República indicar, para o Supremo Tribunal Federal, o nome de um juiz que, na campanha eleitoral de 2014, gravou propaganda pedindo que se votasse nela. Ele justificou o pedido declarando toda sua admiração pela candidata e seu partido. Como votará se for parar no STF, é a pergunta que se impõe.

Mas não paramos aí. Outra criação brasileira parece estar fazendo sucesso. É a guerra dos cabides. O vencedor não é quem tem mais força ou mais cabides. Ganha quem tem a caneta.

Estranho, não é? Mas aqui é assim. Tudo muito estranho.

* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* - Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

No Jogo do Bicho, o número 13
((Foto: Arquivo Google))