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Diário Grande ABC

Nem sempre é o que parece. Coluna Carlos Brickmann

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE 11 DE SETEMBRO DE 2019

10.09.2019  |  1.118 visualizações

 

Um dos zeros do presidente, Carluxo, levou cacetadas só por ter dito que, por vias democráticas, a transformação que o Brasil quer “não acontecerá na velocidade que almejamos“. E, no entanto, Carluxo tem razão. Foi abandonando a democracia que Mussolini fez com que os trens da Itália cumprissem o horário. Tudo bem que algum tempo depois a Itália fosse invadida e ele terminasse seus dias pendurado pelos pés. Mas foi tudo rápido. Como foi rápida a transformação da Alemanha tão logo Hitler fugiu das vias democráticas. Montou avançados campos de extermínio, levou o país a ser atacado com as mais modernas armas então existentes, e depois passar uns 50 anos dividido em dois – algo, convenhamos, transformador, diferente de tudo o que havia antes.

Há quem pense que o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, movido pelo fervor fundamentalista, errou feio ao tentar apreender os gibis da Marvel em que dois super-heróis se beijavam. Nada disso: Crivella passou a ser criticado por esquecer que o país é laico, que revista compra quem quer e que a censura é proibida pela Constituição. Enquanto isso, não o criticaram pela total inoperância como prefeito do Rio. Crivella, como o prefeito paulistano Bruno Covas, é simpático, bom de conversa, mas concentra defeitos na parte administrativa. Digamos que Crivella é uma espécie de Bruno Covas capaz de citar longos trechos do Evangelho.

Qual a vantagem?

Parece que está sendo difícil defender a gestão de Crivella como prefeito. Ao brigar com os super-heróis, passa a ser defendido por eleitores que, como ele, se opõem a fotos, desenhos ou frases que pareçam ser contra a religião. Embora o trio Batman, Robin e Alfred, e as duplas Mandrake e Lothar, o Fantasma e Guran, o líder pigmeu, nunca tenham dado margem a dúvidas.

Salvador sem pornografia

ACM Neto, prefeito de Salvador, promulgou a lei que proíbe pornografia em eventos da Prefeitura. OK – mas como definir o que é pornografia? No Carnaval de Salvador dificilmente as letras estão distantes do tema proibido. Nos bons tempos em que Carlos Moreno era garoto-propaganda da Bombril, uma das músicas do Carnaval de Salvador, composta pelo pessoal da agência de publicidade que cuidava da conta, tinha como refrão “Pega no Bombril dela”. Nos tempos da censura do regime militar, as revistas de mulher pelada receberam instruções sobre o que era proibido ou permitido. Mulher nua só podia exibir um dos seios. Mas, com uma camiseta molhada, transparente, podia mostrar os dois. E havia a proibição do impossível: não era permitido mostrar uma foto frontal de bunda. Essa nem Picasso conseguiria.

Boa notícia

O Brasil continua sendo um dos recordistas mundiais de assassínio, mas melhorou um pouco: pela primeira vez em três anos, caiu o número de pessoas assassinadas. Em 2018, houve menos assassínios que em 2014. Não é uma grande redução, mas é uma redução: houve 57.341 pessoas assassinadas. Mas o número de mortos pela Polícia alcançou o recorde de 6.220. Não se sabe se um número deriva do outro. Está aí um bom tema para debates: quando a Polícia mata mais, o número total de assassínios se reduz? Ou, o que também é possível, um número não tem nada a ver com o outro?

O bem-bom, de novo

Deu no Estadão: “Com aval de Rodrigo Maia, um grupo de parlamentares liderados por Luiz Flávio Gomes (PSB de São Paulo) quer impedir que juízes de primeira instância determinem medidas drásticas contra políticos, como prisão, quebra de sigilos bancário e telefônico, além de busca e apreensão.” Isso é para evitar “o ativismo judiciário”, nome que dão ao trabalho do juiz de primeira instância quando determina medidas contra alguma Excelência.

Todos são iguais perante a lei, mas há os que querem ser mais iguais.

Meninos, eu li

O vice-presidente general Hamilton Mourão, comentando a frase de Carluxo Bolsonaro sobre a dificuldade de transformar rapidamente o país por causa da democracia, disse que democracia é o pilar da sociedade. Vivemos todos para testemunhar, caros leitores, um general linha-dura ensinando a importância da democracia a um civil que ganha a vida graças a ela (já que seus salários de vereador são pagos porque foi votado e se elegeu).

Buscando médicos

O prefeito de São Paulo, Bruno Covas, PSDB, propôs o Contrato do Programa de Médicos (sucessor do Mais Médicos), para ampliar o sistema de saúde do município. Os três senadores do Estado o apoiaram e, reunidos com o ministro da Saúde, Luiz Mandetta, acertaram a assinatura de convênio, já previsto no orçamento municipal. E daí? Daí, nada: Erno Harzheim, secretário da Assistência Básica do Ministério da Saúde, está emperrando, por algum motivo desconhecido, a assinatura do convênio. Quem manda lá?

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