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Diário Grande ABC

Tá todo mundo doido, opa! Coluna Carlos Brickmann

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 3 DE MAIO DE 2020

01.05.2020  |  879 visualizações

 

 

O Governo brasileiro, que já havia notificado o Governo venezuelano da decisão de expulsar seus diplomatas, voltou à carga: determinou que os diplomatas se retirem imediatamente do Brasil, no meio da pandemia de coronavírus. Há voo Brasília - Caracas? O Itamaraty do chanceler Ernesto Araújo não está preocupado com isso. Se os venezuelanos não saírem, seja por qual motivo for, poderão ser tratados como imigrantes ilegais.

Por que? Aparentemente, porque Bolsonaro não gosta do regime imposto à Venezuela pelo presidente Nicolás Maduro. Este colunista também não tem a menor simpatia pelo regime que levou a Venezuela à má situação atual e que pode ser classificado como ditadura. Mas temos relações diplomáticas com a China, que não é mais democrática que a Venezuela; e com o Irã, que enforca homossexuais em praça pública por considerá-los criminosos; e com a Síria, em que o presidente Assad há anos massacra os oposicionistas. Mas a questão nem é esta: é saber o que o Brasil ganha expulsando diplomatas, e num momento de crise sanitária da qual não será possível protegê-los.

Proteger os diplomatas, mesmo de países inimigos, faz parte dos hábitos civilizados. Quando o Japão, sem declaração de guerra, bombardeou Pearl Harbor, os americanos devolveram seus diplomatas. O procurador-geral da República, Augusto Aras, recomendou que a expulsão seja suspensa. Talvez haja tempo para que um pouco de bom-senso areje os ares do Itamaraty.

 Sensatez

O procurador-geral recomendou que a ordem de expulsão dos diplomatas venezuelanos seja suspensa até que se avaliem “eventuais riscos para seu cumprimento”, fixando-se o prazo para a saída de acordo com o contexto da pandemia, a perspectiva humanitária, normas nacionais e internacionais”.

 Palavras e fatos

Bolsonaro disse que a política de isolamento social não funcionou, tanto que o Brasil já superou os índices da China. Bolsonaro não disse que o índice de contaminação e as mortes variam conforme a situação de 15 dias antes – o prazo para que um contaminado passe o vírus para outros e estes mostrem sintomas da doença. Enquanto a quarentena foi mantida com alta adesão, os índices caíram. Depois que o presidente passou a sassaricar em padarias e no meio da rua, o mau exemplo fez com que a quarentena perdesse força, elevando os índices de contaminação e morte.

Até o americano Donald Trump, ídolo mor de Bolsonaro & Filhos, fala mal do que ocorre por aqui.

 Fatos e palavras

O presidente Bolsonaro também nada falou sobre a demora na aplicação de recursos federais contra a pandemia. Até abril, o Governo Federal gastou apenas 23,6% dos recursos previstos para este fim. A informação é oficial, do Ministério da Economia: foram previstos R$ 253 bilhões para combater a pandemia, mas até 30 de abril foram gastos R$ 59,9 bilhões. O restante – bem, como já disse o presidente, todos nós um dia vamos morrer.

 Os favoritos da República

Os trabalhadores do Porto de Santos estão arriscadíssimos a perder o emprego: acusam o Governo (que comanda o porto, e anuncia que o prepara para a privatização) de liquidar empregos, dando prioridade ao agronegócio. Só que São Paulo é o maior polo industrial do Brasil e há outros portos que podem atender melhor ao agronegócio. De qualquer forma, trocar produtos que utilizam contêineres por granéis e fertilizantes é só um dos objetivos da reforma: outro é abrir espaço para a Rumo, empresa ferroviária do grupo Ometto, sem que o grupo tenha necessidade de comprar terreno. Outra é permitir que produtos potencialmente perigosos – por exemplo, gás natural, comprimido até ocupar 1/10.000 do volume original – operem pertinho de Santos, uma grande cidade. Pode ocorrer um acidente? É torcer para que não.

 O mesmo dono

A propósito, a empresa que opera gás natural altamente comprimido pertence também ao grupo Ometto, o mesmo da ferroviária Rumo e de distribuição de combustíveis. Para que o terreno seja entregue bonitinho ao grupo, o Governo anuncia que não vai renovar a concessão, já aprovada em todos os escalões técnicos, de uma empresa de armazenamento alfandegado de contêineres, que gera dois mil empregos diretos e quatro mil indiretos.

Hora tucana

A Procuradoria-Geral da República denunciou o deputado federal Aécio Neves, do PSDB mineiro, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. O então governador de Minas (que teria recebido, entre 2008 e 2011, R$ 65 milhões em propinas da empreiteiras Odebrecht e Andrade Gutierrez) foi eleito senador, e mais tarde perdeu a Presidência para Dilma Rousseff.

Aécio foi citado na delação premiada de Marcelo Odebrecht, o Príncipe dos Empreiteiros, que passou dois anos na prisão. Outra investigação sobre um ex-governador tucano, Geraldo Alckmin, foi arquivada – a Procuradoria concluiu que não havia motivo algum para denunciá-lo.

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