Jamais opinei sobre as relações dos profissionais com as empresas jornalísticas, pelo convencimento de que, assim como sempre gozei o direito de me demitir quando me desagradava a linha do veículo, também o empresário tinha o direito de me demitir se a minha "linha", vamos dizer assim, não lhe conviesse.
Contudo, o afastamento do cartunista Marco Aurélio de Zero Hora, me leva a manifestar perplexidade diante da injustiça em que redundou a interpretação equivocada do seu trabalho sobre a tragédia de Santa Maria. Só vi naquela charge, claro que com o estilo típico do gênero, o lirismo de uma mensagem que é a de todas as religiões: a bem-aventurança eterna no reino de Deus.
No rádio antigo, com "Uma emissora no céu", programa criado por Nelson Cardoso, homenageávamos os companheiros que partiam. Deus precisava de apresentadores, narradores, comentaristas, radioatores, cantores, humoristas, operadores de áudio, enfim de talentos para ampliar Seu Elenco, pois a alegria da arte era também parte também da recompensa a quem Ele abrigava em Seu seio.
Marco Aurélio criou uma universidade no céu a que chamou Universidade de São Pedro. Quem conhece alguma universidade que não tenha em seus quadros uma figura típica? Vittorio Detânico na Medicina dos anos 30-40? Lupicínio Rodrigues no Direito dos anos 40-50? Os contemporâneos terão outros nomes para atualizar a relação, mas, quem melhor que o Velho Chaveiro para desempenhar o papel em uma universidade no céu?
Onde o mau gosto, o desrespeito à dor de familiares, a insensibilidade diante da tragédia? É apenas uma alegoria, ingênua, até certo ponto infantil, para transformar a dor do irremediável na certeza de haver algo bem melhor do que divisamos nos horizontes deste planeta tão conturbado. Na Universidade de São Pedro, onde agora também lecionam o Duque de Caxias, Niemayer e Paulo Freire (que Marco confundiu com Gilberto Freyre), havia vagas e Deus chamou aqueles jovens para preenchê-las.
No meio da fila, a menina telefona: "Mãe, eu estou bem!" Haverá algo mais poético e enternecedor do que esta cena? Bastaria ela para dizer que, ao partir, sobrevivemos naquilo que semeamos no coração dos que ficam. Mas é preciso coração puro para se receber esta mensagem.
Jayme Copstein - É jornalista, e dos bons