A eleição do cardeal-arcebispo de Buenos Aires, d. Jorge Mario Bergoglio, é um fato extraordinário, e sua primeira atitude a da escolha do nome, como papa, de Francisco I é relevante e significativa.
Mas, com a opção que fizeram, o Conclave e a cúpula da Igreja enviam sinais contraditórios ao mundo.
Ao decidir em 25 horas, o conclave de 115 cardeais eleitores mostra a pressa evidente da Igreja em ter de novo alguém no comando, diante da múltipla crise da instituição que vai desde a roubalheira dentro da própria Cúria Romana até o escândalo de pedofilia envolvendo padres e bispos de vários países, em uma conjuntura de brutal perda de credibilidade que se soma à crescente perda de influência e de fiéis mundo afora.
A escolha do primeiro papa não-europeu em quase 1.300 anos o último foi São Gregório III (731-741), que era sírio também é um recado formidável ao mundo, sobretudo sendo um pontífice da América Latina, onde o catolicismo perde terreno de forma galopante para as diferentes correntes evangélicas protestantes.
Um papa do Terceiro Mundo e da AL, região complexa, conflagrada, atualmente sob influências ideológicas distantes do cristianismo em alguns países, é, em si mesmo, um fato extraordinário.
Por sua vez, a opção do próprio papa de ser o primeiro a chamar-se Francisco não reflete orgulho, mas é um recado evidente de identificação com um santo que virou o oposto de quem se interessa por riqueza material.
Já o fato de Francisco I ter 76 anos indica, porém, uma vez mais, que o Conclave optou, sem margem de dúvida, por um papa de transição.
Grandes e profundas reformas poderão ser feitas por um homem a caminho dos 80 anos?
Contradições e até mistérios que deixo para os vaticanistas esquadrinharem, o que farão melhor do que eu.
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*Ricardo Setti é jornalista, com passagem pelos principais veículos de comunicação do país. Hoje, com o blog veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti