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"Mafalda tem toda razão", por Maria Helena RR de Sousa*

Hoje em dia ser gordo, feio, homo, velho, baixo, narigudo, ou sei lá mais o quê, basta desagradar um punhado de ignorantes, é motivo para ser violentamente agredido e até assassinado. O tal do bullying é um crime bárbaro que se instalou em todo o mundo e contra o qual até agora nada de positivo...

13.05.2014  |  285 visualizações
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 12 de maio de 2014


Coisas estranhas acontecem em nosso mundo. Há uma epidemia de fatos e atos que, como todos os fenômenos fora da normalidade, quando não freados, aumentam de intensidade.

Começo com o russo Putin, essa figura que parece um iceberg que se desprendeu do Ártico. Ele resolveu comemorar a data que significa Paz com um desfile militar estupidamente agressivo, para exibir sua sanha de conquistador numa fúria que logo em seguida nega ao afirmar que Moscou não tem a ambição de absorver o leste da Ucrânia. Foi colocar flores numa Praça na Criméia porque está preocupado com as abelhas, naturalmente.

Nos EUA continua o festival de anormais de todo tipo com as armas mais poderosas porque, em 1791, entrou em vigor a Declaração dos Direitos do Homem que, entre outras coisas, garantia o direito do cidadão a guardar e usar armas. O principal autor desse documento, Thomas Jefferson, com toda a certeza ficaria revoltado com a má fé de quem, em um mundo completamente diferente, acha que esse artigo é intocável, apesar do número cada vez maior de inocentes a morrer porque qualquer um compra armas, basta ter dinheiro no bolso.

Hoje em dia ser gordo, feio, homo, velho, baixo, narigudo, ou sei lá mais o quê, basta desagradar um punhado de ignorantes, é motivo para ser violentamente agredido e até assassinado. O tal do bullying é um crime bárbaro que se instalou em todo o mundo e contra o qual até agora nada de positivo foi feito...

Em La Plata, AR, "uma menina de 18 anos foi atacada porque ‘era linda’. Sobreviveu com o nariz quebrado e com o trauma psicológico de ter sido agredida dentro de um ônibus. Ninguém esboçou reação, chamou a polícia ou interferiu na briga". ("Cartas de Buenos Aires", Blog do Noblat, 10/5/2014)

Aqui no Brasil a hediondez e a selvageria ultrapassaram todos os limites. O linchamento no Guarujá, apavorante, já foi tratado como resultado de ruas sem policiamento ou como efeito do noticiário sobre outros linchamentos. Será que é por aí? Só nos comportaremos como seres humanos se em cada rua houver polícia para nos conter? Ou se a Imprensa ficar caladinha?

Se os jornais não noticiassem as degolas em Pedrinhas, aquele presídio poderia ser encaminhado ao Ministério Público Italiano como um bom exemplo prisional para receber condenados?

Sequestros como o da jovem Raphaela num ônibus no Rio apresentam em comum com outros o fato do criminoso exigir a presença da Imprensa e ser atendido! Comum também, e que talvez vire mania, é o perdão da jovem sequestrada: "Eu perdoo ele (...). Ele não fez nada comigo. Não tenho nada contra ele, só tenho pena", disse a adolescente.

Talvez esse tipo de crime diminua pela falta de ônibus. (Tenho a impressão que os vândalos acham que os donos dos veículos serão prejudicados com as depredações).

É, querida Mafalda, o mundo está gravemente enfermo. Sofre de burrice. Do tipo incurável.

* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* - Professora e tradutora. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.

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...É, querida Mafalda, o mundo está gravemente enfermo. Sofre de burrice"...
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