Artigo especial para a B&A e www.50anosdetextos.com.br
Não sei, e na verdade prefiro nem saber, pois é um desaforo muito grande, quanto custou, exatamente, o passeio de Paulo Roberto Costa a Brasília. Falam em cerca de 60 mil reais, um troco para país tão rico.
O governo é covarde na medida em que nos agride sabendo que não podemos reagir - e não me venham com a lembrança que nas eleições reagiremos. Vocês têm certeza disso? Porque eu não tenho, nenhuma.
Como reagir a esse despautério? Se já sabiam que numa sessão aberta o delator não falaria, por que insistir? Se falasse, ele perderia o acordo de delação premiada. No lugar da figura, você falaria?
Eu me obriguei a assistir a CPI da Petrobrás, embora ciente que o premiado delator não iria falar. Mas queria ver o comportamento de Suas Excelências.
Fiz bem. Foi um espetáculo!
Logo nos prolegômenos - juro que ouvi a voz do Odorico Paraguaçu ao meu lado!- as Excelências presentes, talvez seduzidas pelos novos e vastos bigodes ostentados por Paulo Roberto Costa, sabedoras que o depoente não poderia, nem que quisesse, o que não era o caso, falar, resolveram que iriam interrogá-lo assim mesmo. Ou quem sabe estavam saudosas de seu vozeirão? Será que as 18 variações do 'nada a declarar' saciaram a saudade das Excelências?
... "Simplício Araújo, pega a palavra não para perguntar, mas para dizer ao depoente: "O senhor está aqui para proteger a sua rabichola. O senhor foi pego com a boca na botija e continua protegendo tudo o que aconteceu de errado na Petrobras com esse seu comportamento"...
Mas vamos aos entrementes: a coragem física do deputado Eduardo Cunha foi louvável. Ele disse, em alto e bom som, não temer as informações do delator, pois quem não deve não teme e o PMDB não teme nem A, B, ou C. "Não tive nenhum constrangimento em ficar perto do delator"!
É ou não é um bravo esse líder do PMDB/RJ? Talvez só em 'Duelo em OK Corral' viu-se tanta coragem!
Mais destemido ainda, sem respeitar os cuidados bigodes do interrogado, um deputado do Maranhão, Simplício Araújo, pega a palavra não para perguntar, mas para dizer ao depoente: "O senhor está aqui para proteger a sua rabichola. O senhor foi pego com a boca na botija e continua protegendo tudo o que aconteceu de errado na Petrobras com esse seu comportamento. O senhor é uma vergonha para sua família e para a sociedade brasileira".
Na ingenuidade dos meus 76 anos, fiquei estarrecida ao ouvir a palavra da Excelência. Pensei que só em Pedrinhas, no Maranhão, o nível fosse tão baixo.
Eis que o Vicentinho do PT começa a falar. Lastima o silêncio do interrogado, mas se diz aliviado: Ainda bem que isso aqui [a TV Senado] o povo não assiste muito.
E disse mais: "Nosso povo está feliz porque saiu da miséria. Jovens pobres, negros e índios nas universidades. Emprego pleno, o que é muito bom. Mas, como o depoente não falou, vai continuar terra arrasada com o apoio da grande mídia".
Essa foi boa, não foi? Ô Excelência, ou bem é o paraíso que o senhor descreve, ou bem é terra arrasada com o apoio da Imprensa. Decida-se.
Mas teve mais. O senador Fleury (DEM-GO) achou que havia redescoberto a pólvora: Eu acredito que vou fazê-lo falar. (...) Eu quero fazer a seguinte pergunta: o senhor tem neto?
Diante da resposta padrão, o senador honrou seus eleitores com a seguinte sentença:
O homem que às vezes nega o neto, se tiver, não tem dignidade. Esse homem não deveria estar aqui. O mínimo onde ele deveria estar seria na Papuda, porque quem nega a família não merece viver.
Com essa, chegou a hora dos finalmente.
Já é muito cômico o hábito de nossos parlamentares se tratarem de Vossa Excelência e Nobre Colega o tempo todo, mas tem algo mais ridículo do que ver os deputados tratarem o condenado que está ali para depor sobre os malfeitos na Petrobras de Vossa Excelência?
A bênção, Odorico. Você faz imensa falta!
Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2014
* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* -
Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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