O dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956) achava uma pouca vergonha que o ator fosse fundo em seu papel. Propôs uma distância olímpica entre ator e personagem - de resto, conhecida como "distanciamento brechtiano".
Pois bem: teria feito muito bem ao PT que Lula tivesse praticado um "distanciamento odebrechtiano".
Por uma questão: agora, na era da delação premiada, o corpo de delito (provas materiais e circunstanciais) para acusar o governo na roubalheira vai também atrás de indícios de prova.
Primeiro vou tratar do que já está no papel, e que virou prova material. Depois, dos indícios de prova.
Na primeira semana de fevereiro de 2015, em depoimento à Justiça, o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco afirmou que recebeu 916.697 dólares da Odebrecht referentes a pagamento de propina. Disse Barusco que tal soma foi transferida de maio a setembro de 2009.
Lembram de Barusco, né ? Era braço-direito de Renato Duque, que comandava a Diretoria de Serviços por indicação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu.
Disse Barusco ao MPF que o dinheiro era transferido para uma conta localizada do Panamá, de propriedade da offshore Constructora Internacional Del Sur SA. E, depois, os dólares tilintantes eram repassados outra conta dele, também no Panamá.
A Odebrecht já foi citada por outros dedo-duros como uma das empreiteiras do chamado Clube do Bilhão. Nenhum diretor da Odebrecht foi preso.
Barusco deu para a Justiça documentos indicando que a empreiteira firmou nove contratos com a Petrobras: cinco na área de Gás e Energia, um na Área de Exploração e Produção e três na área de Abastecimento. Valor O valor total dos contratos: 8,6 bilhões de reais em um "período de 2004 a 2010 ou 2011".
Agora vamos tratar de vínculos públicos conhecidos entre Lula e a Odebrecht, que constituem os indícios de prova:
Em 2011 o executivo Alexandrino Alencar, diretor da Odebrecht, acompanhou o ex-presidente Lula numa viagem à África, quando Lula foi designado representante oficial do Brasil numa missão à Guiné Equatorial e incluiu Alencar em sua comitiva.
Na era Lula, a Odebrecht foi a empresa que mais cresceu e assumiu operações importantes, como a base para o submarino nuclear, no Rio, uma usina do Rio Madeira, e também passou a construir plataformas de petróleo para a Petrobras.
Em fevereiro de 2013, 3 construtoras com histórico de doações para campanhas petistas e de execução de obras do governo federal custearam a viagem de seis dias do ex-presidente Lula para a África, encerradas a 9 de março daquele ano Durante a visita ao continente, o político fez duas palestras. A primeira foi paga em conjunto pela Odebrecht e pela Queiroz Galvão, além de uma empresa de seguros local. A segunda foi bancada pela construtora Andrade Gutierrez, que doou mais de R$ 2 milhões à campanha de reeleição do ex-presidente, em 2006, quando a Odebrecht injetou cerca de R$ 200 mil.
Desde 2011 o ex-presidente Lula visitou 30 países, sendo 20 na região. Empreiteiras custearam 13 desse total de viagens.
Em abril de 2014 Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians e responsável pelas obras do Itaquerão, feito pela Odebrecht, falou algo seminal ao canal ESPN. Sanchez disse que Lula agilizou pessoalmente junto a Odebrecht as burocracias envolvendo as obras. Lula também ajudou em algumas negociações, como no caso dos dutos da Petrobras, encontrados no solo de Itaquera, e que atrapalhariam as obras do Itaquerão, relatou Sanchez.
"O Lula foi importante, é óbvio que um presidente da República, conselheiro do Corinthians, amigo meu, em muitas coisas que eu demoraria um mês para ser atendido, eu fui atendido no dia seguinte. Os próprios dutos da Petrobras, eu fui duas vezes lá e não me atendiam. Eu disse chefe, e virou o que virou, é o que a gente estava falando. Então, um dia, essa história toda vai ser contada e eu espero que não esteja nem eu nem ele aqui para que se fale a dificuldade que há nesse país para se fazer as coisas bem feita", afirmou Andrés.
Segundo o ex-presidente do Corinthians, o estádio "se livrou de preços absurdos por causa de boas negociações".
Entenderam porque a ode ao PT e a Lula, no aniversário de 35 anos do PT, foi a Odebrecht ?
Claudio Tognolli - é jornalista há 35 anos e já passou por "Veja", "Jornal da Tarde", "Caros Amigos", "Joyce Pascowitch", "Rolling Stone", "Galileu", "Consultor Jurídico", rádios CBN, Eldorado e Jovem Pan e "Folha de S. Paulo". Ganhou prêmios de jornalismo e literatura como Esso e Jabuti. É diretor-fundador da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e membro do ICIJ (International Consortium of Investigative Journalism). Professor da ECA-USP, escreveu 12 livros.
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