Artigo originalmente publicado no Blog de Ricardo Setti (http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/), na Veja online, edição de 14 de fevereiro de 2015
Deixem-me ver se entendi direito: o governo brasileiro garantiu ao da Itália que Henrique Pizzolato, condenado por ter desviado dinheiro público - aquele em boa parte oriundo do suado salário do trabalhador brasileiro via o escorchante Imposto de Renda -, que fugiu do país usando documentos falsos, os do irmão morto (nem a memória dele respeitou), será bem tratado na prisão e terá garantidos os seus direitos humanos???
E os outros condenados, os comuns quase todos também pobres -, não têm esses direitos?
Podem cumprir pena enjaulados, nos presídios "normais" do país???
Quer dizer que, passados 12 anos de governos que alardeiam aos quatro ventos terem diminuído as diferenças sociais, foram criadas as categorias prisioneiros classe A e F?
Uns vão para a Papuda, outros, para a
?
Isso me lembrou uma velha piada do tempo da ditadura militar. O ditador brasileiro de então foi visitar a Bolívia e, ao ser apresentado ao ministro da Marinha do país vizinho, manifestou estranhamento:
- Ué, ministro da Marinha? A Bolívia não tem mar!
Recebeu como resposta:
- Estranhando por quê? O Brasil não tem ministro da Justiça?
Aliás, certas injustiças pátrias estão ancoradas no Código Penal: os portadores de diploma de curso superior têm garantido o direito a prisão especial. Oras, isso é a mais total inversão da lógica. Esses deveriam ter a pena agravada e cumprida em prisões comuns, pois são os que, teoricamente, por terem tido melhor educação, têm mais condições de discernir o certo do errado.
Mas, não, recebem melhor tratamento e, em geral, escapam da condenação, porque usam as fortunas que obtiveram criminosamente para contratar a peso de ouro os melhores advogados.
Por essas e por outras que vemos, cada vez mais, jovens, os mais capacitados, cujo maior projeto é morar fora daqui. Quando os que mal começaram a vida perdem a esperança, o que esperar do futuro do país? Está indo embora com eles.
(*) Cacalo Kfouri - é jornalista