Artigo publicado originalmente em O GLOBO, edição de 23 de fevereiro de 2015
A maior empresa do país, motor da economia brasileira, enfrenta uma crise tão avassaladora que, entre os especialistas em recursos humanos, um tema se tornou recorrente quando o assunto é a Petrobras. Como recuperar a confiança e o orgulho dos empregados em meio à crise que vem minando a reputação da empresa? Como fazer com que os funcionários apostem e entrem na briga para reerguer a organização que um dia foi a mais rentável do país e hoje preocupa todos pelo seu nível de endividamento?
Se há oito anos a Petrobras alcançava uma ótima fase com a descoberta de petróleo na região do pré-sal atraindo investidores, turbinando suas atividades e elevando a autoestima e a motivação dos funcionários , hoje a vive o momento máximo de contraponto daquela realidade. Atingida pela má gestão, tem um desafio proporcional à grandiosidade dos bons e velhos tempos: voltar a acreditar em si mesma.
No mercado corporativo, quando qualquer grande empresa enfrenta momentos de turbulência, cria-se um ambiente de instabilidade vulnerável a especulações, a rotina dos funcionários é diretamente afetada e a produtividade fatalmente cai. Os alertas vermelhos não podem ser ignorados, para que o quadro não se torne irreversível.
No caso da Petrobras, a questão é ainda mais preocupante. A crise é pública, e não lidamos com meras especulações sobre as negociatas, já comprovadas e com perdas bilionárias. Trata-se de uma crise histórica, que afeta a economia brasileira e envergonha não somente os funcionários honestos da corporação que certamente representam a maioria esmagadora da folha de pagamento da estatal , mas a todos nós, cidadãos. Não à toa a palavra mais escrita no Twitter este ano foi Petrobras, segundo levantamento da agência Bites.
O uso político da estatal e a corrupção desenfreada desenharam um quadro de difícil condução ao mais gabaritado especialista em gestão de crise. Recentemente, a presidente Dilma Rousseff disse que "nós devemos punir as pessoas, e não destruir as empresas". A declaração foi mal vista, pois, além de contrariar a Lei Anticorrupção que prevê suspensão de atividades, perdas de bens e até dissolução como punição para a roubalheira , soou como uma defesa das empreiteiras.
Fazendo uma leitura otimista, podemos entender que os responsáveis devem ser penalizados e o capital humano, acima de tudo, deve ser preservado. Os funcionários são o maior ativo da empresa. Sem o engajamento de quem coloca a mão na massa, não se irá a lugar nenhum. E essa comunicação interna, transparente e engajadora, deve acontecer concomitantemente à caça às bruxas. É preciso cortar cirurgicamente, arrumar a casa, mas sem esquecer de quem faz a engrenagem girar.
Já passou a hora de olhar para dentro e tomar providências efetivas. O novo presidente terá de equilibrar bem mais do que o orçamento da estatal.
Paulo Sardinha- é presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio