Estou, sim, estarrecida com algumas manifestações de ódio contra quem exerceu seu direito de crítica realizando o panelaço enquanto a presidente falava. Quer dizer que os descontentes com o governo de Sua Excelência não têm o direito de protestar? Quer dizer que fomos (bati panelas, sim!) financiados? A ideia de "financiamento" para o panelaço é engraçada: quanto me pagariam por um minuto de panelaço? Se fosse por cinco minutos, eu daria um desconto aos financiadores? E as panelas (algumas se estragaram...) quem as mandou aos que estiveram nas janelas batendo nelas? A minha foi Fernando Henrique que enviou, por Sedex.
Essa história do "financiamento" é hilária.
O que não é nem um pouco engraçado é o ódio contra quem bateu panelas. Li coisas no Facebook que até Deus duvida! O novo crime para os petistas e simpatizantes é bater panelas. Não querem que as pessoas se manifestem, opinem, expressem sua revolta e seu desagrado com o governo. Não querem que ninguém bata panelas! Panela é para o fogão e pronto! (Lembra um pouco aquela história meio antiga, mas ainda valendo, de que lugar de mulher é no fogão.)
Proibido bater panelas! Ainda mais quando Sua Excelência, a competenta, resolver falar pela tevê.
Uma pessoa que está na minha lista do Facebook mandou um recado desaforado, disse que " ...tinha orgulho de ser paulista e que agora não tem mais". Nós, paulistas, seríamos retrógrados. E mereceríamos "o ar que a Sabesp coloca dentro dos canos de nossas casas." Pode até ser engraçado, mas é a expressão mais clara e perfeita do "é proibido pensar o contrário do que eu penso, portanto não batam panelas quando estiverem em desacordo comigo e com a presidenta".
Não foi só ela. Li em páginas de outros amigos expressões de ódio como esta: "Quem bateu panelas é de direita, é udenista e apoiador do Collor". Mesmo? Quem é amigo do Collor, agora, senão a presidenta e seu mentor?
Uma senhora que ganha a vida dizendo aos outros o que é ou não chique escreveu que "bater panelas nas sacadas não é de bom tom, não é chique". Me poupe, senhora! Chique, pra mim, é ter coragem de dizer o que se pensa, chique é protestar contra injustiças e contra incompetência! Chique é vibrar na hora certa e bater panelas na janela para mostrar indignação. Chique é participar da vida política do país e mostrar desagrado. Ficar caladinha em casa se borrando de medo, é que, pra mim, não é de bom tom.
... E Juca Kfouri? Escreveu que "bater panelas com estômago cheio é ridículo". Juca ainda está na era em que as pessoas batiam panelas para protestar contra carências e fome. Ainda não descobriu que, agora, é forma de protesto como qualquer outra! Por via das dúvidas, quando se me apresentar novamente a possibilidade de bater panelas vou fazer jejum por três dias..."
Há pessoas que não conseguem conviver com o contraditório. Sei que é difícil, mas há que tentar, senhores e senhoras, brasileiros e brasileiras, há que tentar! Aprender a respeitar a opinião alheia deveria estar na grade de ensino de todas as escolas.
E para o governo? Para o governo bater panelas tem "viés golpista", um perigo! Gostaria de saber como é que seria golpe com panelas. Como se conseguiria isso? Com paneladas na cabeça dos políticos corruptos? Tô fora desse golpe, estragaria muito minhas panelas, tem cabeça de político que não racha à toa.
E Juca Kfouri? Escreveu que "bater panelas com estômago cheio é ridículo". Juca ainda está na era em que as pessoas batiam panelas para protestar contra carências e fome. Ainda não descobriu que, agora, é forma de protesto como qualquer outra! Por via das dúvidas, quando se me apresentar novamente a possibilidade de bater panelas vou fazer jejum por três dias.
Finalmente quero dizer por que razões não mereço o ar que a Sabesp coloca nos canos da cidade, segundo a moça carioca: pago impostos, sou cidadã consciente, voto (aliás, sei votar!), protesto quando acho que devo, tenho opiniões e as expresso, participo (mesmo aos 84 anos!) e acho muito chique bater panelas quando penso que é hora de bater panelas!
Quem sabe faz a hora.
*Regina Helena Paiva Ramos - é uma das jornalistas pioneiras do país. Entre outros, escreveu "Mulheres Jornalistas, a Grande Invasão"