Coisa horrível ficar colocando tanto ponto de exclamação. Estou cansada de saber que um só já é suficiente. Aprendi isso ainda com a dona Hermínia, no segundo ano - que depois virou série e agora é de novo ano. Um grande avanço no ensino.
Mas não resisti e sentei o dedo na tecla do acento que fica em cima do número 1. Algo está acontecendo, algo tão profundo que faz com que seja necessário burlar até leis gramaticais.
"Ah! Então você acha que a Dilma não sabia de nada?" Esse é um ah de suspeita. Suspeita de que o interlocutor esteja com sua capacidade mental afetada.
Ah!! É o grito que tive vontade de dar hoje ao tentar marcar um exame no hospital da Unimed. Quando a carteira de pessoas físicas da Golden Cross foi vendida, tivemos a garantia de que tudo ficaria igual.
E aí vem o terceiro Ah!!! Acreditei, tolinha que sou. Mas, como diria o cantor de boleros, a verdade é que tudo mudou. E, ao invés de fazer meu exame no Albert Einstein, como eu fazia antes, querem que eu faça no hospital deles. Tudo bem, vamos nos acostumar aos novos tempos (mas o preço, que não sabe de nada, continua nos velhos tempos, ah!!!!!). Em plena era super duper hiper tecnológica, precisei ir pessoalmente marcar a internação (estão em reforma, uma bagunça, atendimento ruim já na recepção). E queriam marcar para maio! Não é que voltando ao carro eu tive um ataque de riso?
Ah, que nervoso... (fica assim, sem exclamação, não vou gastar mais um acento com eles, as reticências devem dar para o gasto).
Ah!!! Esse é de susto! Rua no bairro do Real Parque desafia as leis da física. A soma não fecha, falta metro. Leito carroçável estreito (ah!! finalmente consegui usar essa expressão), aparência bucólica, duas mãos de direção, caçamba de um lado, carro estacionado do outro. Pela boca do funil precisam passar um carro (o meu) e um daqueles off road gigantescos que deveriam estar on road, e não atrapalhando o trânsito in town. O motorista fica tão no alto que acho que ele nem consegue me enxergar no Corolla - ou Corollinha, como disse outro dia um manobrista de uma loja na Consolação (lado bom, é claro). Quem passa primeiro? Adivinha... Quase fui esmagada contra a caçamba. Se fosse daquelas feitas com não-tecidos, como minha mana vem propondo para mais de uma liderança da cidade, seria menos deprimente. Mas não falo mais de carro ou trânsito. Fico parecendo taxista histérico.
Ah!!!!, que bom que o Harrison Ford está bem. Para mim, herói é assim. Essa coisa de super herói apanhar para vencer no fim não me convence. Tem que ser bom sempre. Como o Neymar - e nem quero ouvir as opiniões em contrário.
Ah!!!!!!! As flores da cidade. Roxas, amarelas, brancas... Muitas vezes quando estou na rua na hora em que o sol vai se por, e tem aquela luz avermelhada, olho as árvores, e poderia dar até vontade de dizer Ah!, que bonito... Mas não é o que acontece, fazer o que? Fico imaginando como é que uma cidade caótica como a nossa merece estar contida em cenário tão nobre. Parece que natureza é uma coisa, a cidade outra. Dissociadas. Um céu e um sol fake, como naquele filme A Vida de Truman.
Ah!!!!!!! Esse é de nostalgia, de quando a gente dizia "nada como um dia atrás do outro" querendo dizer que o outro seria melhor, não pior. Mas hoje estou desanimada, e acho tudo muito esquisito.
Que droga está acontecendo nesse país? Os discursos dessa semana, dos ministros e da presidente, em que mundo eles estão; ou de que mundo vêm? Empáfia, prepotência e falta de respeito (ou não é falta de respeito a Dilma, num momento de tamanha seriedade, falar de improviso, bem ela?)
Eles falam da corrupção
dos outros, dos erros
dos outros, dos enganos
dos outros. Para compensar essa incompetência e desonestidade
dos outros eles, em um gesto magnânimo, vestais da democracia, concedem ouvir a voz das ruas com humildade (essa é boa...)
Ah!!!!!!!!!!!!!! Vão plantar batatas!
*Sílvia Zaclis -
É jornalista