Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 20 de março de 2015
Durante sua campanha para presidente em 2010 estranhei um pouco o modo de dona Dilma falar. Alguém me disse que eu estava estranhando o sotaque e o linguajar gaúcho da candidata, o que de pronto descartei. Tenho amigos gaúchos desde minha adolescência, acho um charme seu sotaque, amo e até adotei muitas de suas expressões.
Mas quando ela assumiu a presidência, ficou definido que ela falava em dilmês, ou seja, num modo todo seu de se expressar.
... "das coisas mais típicas do dilmês é o sumiço quase geral do verbo no infinitivo, como neste exemplo: "Atitude de humildade é que você só pode abrir diálogo com quem quer diálogo. Porque quem não quer abrir diálogo com você, você não tem como abrir diálogo" O que aconteceu com o verbo dialogar? "...
Gosto muito do estudo de línguas, tenho facilidade em aprendê-las, não é à toa que gosto de lecionar e traduzir. Também acho interessantes os dialetos e sempre que posso me dedico a decifrar seu código. O
veneto, que era a linguagem de meus avós paternos com os filhos e os dois netos mais velhos, foi o primeiro que quis aprender. Foi difícil... mas, consegui.
Já o dilmês... quase jogo a toalha. Mas como ela é a presidente da República, continuo insistindo.
Uma das coisas mais típicas do dilmês é o sumiço quase geral do verbo no infinitivo, como neste exemplo:
"Atitude de humildade é que você só pode abrir diálogo com quem quer diálogo. Porque quem não quer abrir diálogo com você, você não tem como abrir diálogo" O que aconteceu com o verbo dialogar?
Ou a conclusão estranha de um pensamento:
"Farei de tudo para o Brasil estar no ritmo de crescimento. Conto com todo mundo para que isso aconteça, conto com governadores, prefeitos conto com os investidores, empresários e com a imprensa, com o Congresso, óbvio, e com o Judiciário, porque não tem como um país crescer sem todos nós pegando junto". Tudo bem, dona Dilma, queremos colaborar, mas a senhora se refere a pegar junto exatamente o quê?
Outra curiosidade do dilmês é a palavra presidenta. Existe, não foi inventada por dona Dilma. Mas passou a ser usada diariamente depois que ela exigiu o seu uso. É engraçado ver adultos que até 2010 não tinham esse hábito - porque ninguém tinha - só falarem presidenta. Fica tão artificial, beira o grotesco, porque sentimos o esforço que fizeram para se adaptar ao gosto da primeira mandatária.
Ontem, na extemporânea entrevista do vice-presidente Michel Temer (apresentada por Roberto DÁvila na Globo News) ficou muito evidente o esforço. Temer é um homem educado e culto e durante todo o primeiro bloco da entrevista só falou presidenta. Já do meio para o fim, ou relaxou ou distraiu-se, voltou ao natural, ou seja, referiu-se à dona Dilma como "a presidente".
Sei que esse assunto, o dilmês, no meio de tantos e tão agudos problemas, não tem muita importância. Mas além de ser, em minha opinião, um dos motivos a afastar a compreensão do povo das reais convicções de dona Dilma, hoje (20) é dia de festa neste querido
Blog do Noblat. É seu 11º aniversário e resolvi fugir dos temas que machucam.
Pelo menos o dilmês nos faz sorrir...
* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* -
Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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