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"Dupla Renan & Cunha deita e rola sobre o governo". Por Ricardo Kotscho*

...A dupla do barulho simplesmente odeia os ministros Aloizio Mercadante e Pepe Vargas, os homens encarregados pela presidente para cuidar das relações com os parlamentares, que Dilma teima em manter nos seus postos. Não tem diálogo possível...

26.03.2015  |  17 visualizações
Publicado originalmente no Blog Balaio, de Ricardo Kotscho, post de 24 de março de 2015 - http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/


Dá até dó. Quando parecia que o governo Dilma-2 finalmente poderia dar uma respirada, com a manutenção do grau de investimento do país, a dupla Renan Calheiros & Eduardo Cunha desfechou nesta terça-feira uma blitzkrieg para inviabilizar o ajuste fiscal.

Em várias frentes, a dupla infernal do PMDB atuou de forma coordenada para aumentar as despesas e diminuir a arrecadação do governo, exatamente o oposto do que o ministro da Fazenda Joaquim Levy vem tentando fazer para colocar ordem nas contas públicas, como garantiu à agência de risco Standard & Poor´s.

A maior derrota do governo foi imposta pela Câmara, que aprovou por 389 votos a favor e duas abstenções, uma sonora goleada, o projeto que autoriza a renegociação do índice de correção das dívidas estaduais e municipais com a União. Ou seja, vai entrar menos dinheiro nos combalidos cofres federais, o que obrigará o governo a fazer novos cortes de despesas. Ainda falta a votação no Senado, mas ali não tem risco: Renan vai garantir mais uma vitória sobre Dilma.

O placar da votação serve para mostrar também que, com quase três meses de governo Dilma-2, já foi para o espaço a ampla maioria que a chamada "base aliada" garantia ao governo. E vem mais por aí: o PMDB já avisou que, do jeito que está, o pacote fiscal não passa.

São várias as razões que foram levando os impagáveis Renan & Cunha a empurrar o PMDB, antes o principal partido aliado, para a oposição. Nenhuma delas, é claro, tem a ver com o interesse nacional, mas todas são fruto de mágoas acumuladas desde antes da posse, durante a formação do segundo governo Dilma.

A começar pela montagem do ministério e da eleição para a presidência da Câmara, uma verdadeira lambança dos articuladores políticos do Palácio do Planalto, que procuraram esvaziar o PMDB para fortalecer os novos aliados Gilberto Kassab e Cid Gomes, a cada passo o governo e o PT mais e mais foram se isolando no Congresso Nacional.

A dupla do barulho simplesmente odeia os ministros Aloizio Mercadante e Pepe Vargas, os homens encarregados pela presidente para cuidar das relações com os parlamentares, que Dilma teima em manter nos seus postos. Não tem diálogo possível.

A gota dágua veio com a divulgação do nome dos dois encabeçando a Lista do Janot, aquela dos políticos investigados na Operação Lava-Jato. Mesmo sem ter provas ou evidências concretas, Renan & Cunha cismaram que foi Dilma quem articulou para incluí-los na relação do procurador-geral, deixando-os simplesmente enfurecidos.

Daqui para a frente, qualquer que seja agora a iniciativa do governo, os dois estarão do lado oposto, junto ao PSDB, como já acontece na CPI da Petrobras. O enfrentamento chegou a tal ponto que agora, toda semana, contra a sua vontade, o ex-presidente Lula se vê obrigado a ir a Brasília para fazer o papel de bombeiro.

Bem que Lula gostaria de ficar longe desta confusão, guardando-se para 2018, mas ele, melhor do que ninguém, sabe que, se não fizer alguma coisa agora, o governo e o PT podem ir juntos para o vinagre, perdendo o apoio dos eleitores a cada nova pesquisa.

O protagonismo dos presidentes da Câmara e do Senado na cena política, aliados a amplos setores da mídia e do Judiciário no combate ao governo, cresce de tal forma que deixa no acostamento a oposição oficial do PSDB e outras legendas menores, tornando-as irrelevantes. Com "aliados" assim, Dilma nem precisa de oposição.

Não bastasse tudo isso, o grande estrategista Gilberto Kassab e sua turma foram ao TSE para pedir a recriação do PL, um novo partido de proveta destinado a tirar parlamentares do PMDB e de outros partidos de oposição, exatamente a causa inicial do enfrentamento de Renan & Cunha com o governo. "Com certeza, isso agravará o quadro político", reagiu Eduardo Cunha imediatamente, assim que soube da manobra.

A barafunda política em Brasília chegou a tal ponto que, agora, é o PMDB velho de guerra, sempre faminto por verbas e cargos, quem propõe a redução dos 39 ministérios pela metade e se coloca contra o corte de benefícios trabalhistas e previdenciários.

Fico aqui a me perguntar: o que falta ainda o governo fazer para piorar as coisas?
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**Ricardo Kotscho é jornalista. Trabalhou nos principais veículos da imprensa brasileira como repórter, editor, chefe de reportagem e diretor de redação. Foi correspondente na Europa nos anos 70 e Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ganhou os prêmios Esso, Herzog, Carlito Maia e Cláudio Abramo, entre outros.