Publicado originalmente em post de 9 de abril de 2015, no boletim do Ex - Blog de Cesar Maia
A. Nos manuais de Inteligência Militar se aprende que "investigação" é ir atrás de informações sobre um fato conhecido para identificar os responsáveis. "Inteligência" é ir atrás de indícios e suspeitas para obter informações negadas ou ocultas sobre fatos ainda não conhecidos. É a "Contrainformação".
1.1. Em 2005, o "setor de informações" do PT soube que os fatos que levariam ao "mensalão" já estavam levantados pela PF/MP. Rapidamente o PT decidiu tirar a peteca de seu colo e transferi-la para seus parceiros. O escolhido foi o PTB. A evidência veio de um vídeo gravado nos Correios, na entrega de uma propina a alguém nomeado pelo PTB. Este foi passado à imprensa e divulgado nos telejornais. O presidente do PTB reagiu, chamando o sujeito de "petequeiro".
1.2. O presidente do PTB, Roberto Jeferson, teria sabido que o vídeo era apenas o início desse processo em que o PT, com conhecimento ou gestão de Dirceu, teria escolhido o PTB e ele como bodes expiatórios. Com esta contrainformação, Jeferson deu uma entrevista à jornalista Renata Lo Prete, na época colunista do Painel da Folha de SP, que foi publicada numa segunda-feira com grande destaque na primeira página da Folha de SP. Todo o esquema gerido por Dirceu, na época primeiro-ministro do Lula, foi denunciado.
1.3. Dirceu caiu e a Câmara de Deputados - para evitar a sangria, que veio depois - cassou a ambos: denunciante e denunciado. E abriu uma CPI. A CPI transmitida ao vivo demonstrou com detalhes o mafioso esquema montado de compra de votos, que ficou conhecido como Mensalão. Foram denunciados e depois condenados dois presidentes do PT, o presidente da Câmara de Deputados, e os presidentes do PL (hoje PR), PP e PTB, e os tesoureiros desses partidos.
1.4. A Contrainformação devolveu como uma bomba-bumerangue o que se preparava contra os "parceiros".
2.1. Em 2015, a cúpula político-ideológica do PT preparava um golpe parlamentar para esvaziar o PMDB, transformando-o em um partido pequeno, com a saída de metade da bancada. O esquema passaria pela criação do PL de Kassab, e através de um processo de fusão, com a entrada de deputados especialmente do PMDB, além de outros mecanismos de transferências para desintegrar o PMDB.
2.2. Os principais líderes do PMDB no Congresso estranharam o enorme empenho do PT e Dilma para desmoralizar e desmanchar as candidaturas do PMDB às presidências da Câmara e do Senado e os indícios de que era apenas um passo para o desmonte do PMDB. A contrainformação concentrou-se na eleição dos dois presidentes. E imediatamente depois veio a ação mais pesada: se é para desintegrar o PMDB, antes vamos desintegrar o PT e seu governo.
2.3. O governo e o PT perderam o controle do Congresso, perderam a iniciativa política e foram arrastados como responsáveis pelas crises econômica e moral ao fogo do inferno da impopularidade.
3. 2005 e 2015, com os erros estratégicos do PT, afundaram o governo e o partido. Em médio prazo não tem político-quimioterapia possível. Vão ter que começar de novo. Um custo enorme para os esPerTos.
Cesar Maia, do DEM/RJ, ex-prefeito do Rio de Janeiro.
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