Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 10 de abril de 2015
Somos, e não é de hoje, um berço esplêndido para Pachecos. De janeiro para cá, eles abundam colocando coisas inacreditáveis. (Não pergunte colocando onde. Finja que sempre soube que colocar é sinônimo de falar. Não dê uma de desinformado!).
Vou fazer aqui, para os jovens, um breve resumo de quem é o inolvidável Pacheco mas, por favor, não percam a oportunidade de ler a Carta ao Sr. Mollinett, em A Correspondência de Fradique Mendes, de Eça de Queiroz.
Pacheco, quando ainda estudante em Coimbra, bradou: "O século XIX era um século de Progresso e de Luz". Desde então, passou a ser considerado um gênio! A lenda cresceu tanto que Pacheco, já um político, nem precisava falar. Seu grande talento ficou sempre bem guardado e ele foi crescendo na carreira: "deputado, director-geral, ministro, governador de bancos, conselheiro de Estado, par, presidente do Conselho".
Bastava, como diziam seus colegas, olhar aquela testa. Pacheco não precisou dar a Portugal "nem uma obra, nem uma fundação, nem um livro, nem uma ideia. Pacheco era entre nós superior e ilustre unicamente porque tinha um imenso talento".
Olhe o nosso Brasil e veja quantos Pachecos temos. Como bons Pachecos, sabem administrar seu talento em silêncio. Ninguém nem desconfia...
Começo com dona Dilma. Afinal,
hay derecho, ela é a presidente. Ao empossar seu novo ministro da Educação a criadora da Pátria Educadora fez questão de dizer que os ajustes fiscais que navegam sobre nossas cabeças não afetarão os programas "essenciais e estruturantes" do ministério. Seria essa a tal luz à qual o Pacheco original se referia?
E o ministro que vai educar a Pátria? O que ele disse? Ou melhor, colocou? Muito sofisticado, e desassombrado, ele frisou que não aderiu ao governo. Só aceitou o honroso convite e vai participar do governo no comando de uma pasta cujo objetivo é mastodôntico!
Passo por cima de muitos Pachecos para falar do mais perfeito deles. Vou qualificá-lo rapidinho antes que ele mude de lugar nesta nova partida de Escravos de Jó: ministro Pepe Vargas, novo titular da Secretaria de Direitos Humanos.
Após a cômica coletiva que deu, com versão I e versão II, dom Pepe colocou para o jornal Zero Hora, a respeito de suas relações com a chefe: "A presidente Dilma não fez isso para me sacanear".
Que alívio!
O gigante acordou em 2013 numa situação complicada. Com toda certeza os Pachecos vão dizer que isso é culpa do FHC. Concordo. Se em 2005 o ex-presidente não tivesse freado o PSDB, nós não estaríamos nesta enrascada.
Fora FHC!
* Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* -
Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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