Artigo publicado originalmente no Jornal do Commercio, de Recife, PE, e transcrito no Blog do Jamildo, em 16 de abril de 2015
João Café Filho agitava a política do Rio Grande do Norte quando foi, literalmente, ameaçado de morte pelos chefes políticos potiguares indo homiziar-se no agreste de Pernambuco. Fixou residência em Garanhuns onde começou a escrever artigos sobre a política regional no jornal O Monitor fazendo bastante sucesso.
A crise passou e Café Filho foi para o Rio de Janeiro aonde as circunstâncias da vida o levaram a assumir nada menos que o cargo de presidente da República. Com a morte de Getúlio Vargas, Café Filho assumiu um curto e agitado governo. Ficou por pouco mais de 14 meses. Mas no dia de sua posse em 24 de agosto de 1954, o jornal O Monitor não abriu mão de prestar-lhe uma justa homenagem e publicou uma edição especial com uma importante:
Nota da Redação
"Por motivo de ter assumido a Presidência da República deixa de fazer, temporariamente, parte dos quadros de redatores do jornal O Monitor, o companheiro João Café Filho, a quem desejamos sucesso em seu novo cargo".
A história serve para mostrar que certas comunicações, dependendo das circunstâncias, tornam-se despropositadas e acabam invalidando o objeto da comunicação. Isso se aplica a nota do Partido dos Trabalhadores ontem à tarde depois que o companheiro João Vaccari Neto foi devidamente conduzido à prisão por agente da Polícia Federal.
... "Nos comerciais na TV, por exemplo, o partido jacta-se de ter sido o governo que mais mandou gente para a cadeia. É verdade. A começar pelos companheiros que ocupam cargos importantes"...
Na verdade, a nota do PT assemelha-se a do jornal O Monitor quando diz: informamos ainda que, por questões de ordem práticas e legais, João Vaccari Neto solicitou seu afastamento da Secretaria de Finanças e Planejamento do PT. E que o Partido dos Trabalhadores expressa sua solidariedade a João Vaccari Neto e sua família, confiando que a verdade prevalecerá no final.
É o óbvio. Já pensou escrever que por motivos de ter sido preso, por decisão da Justiça, o companheiro ficou impossibilidade de continuar a conduzir as finanças desta agremiação?
O texto só revela como a lógica do PT se revela desconectada da realidade. O normal é que uma vez denunciado, o tesoureiro se afastasse voluntariamente (e ao menos dissesse isso numa comunicação ao público) para cuidar exclusivamente de sua defesa.
Mas o PT preferiu a resistência e pagar para ver. Talvez na esperança de que a Justiça Federal não tivesse motivos para mandar prender o principal arrecadador do partido. Mas quem disse que o PT pensa assim? Nos comerciais na TV, por exemplo, o partido jacta-se de ter sido o governo que mais mandou gente para a cadeia.
É verdade. A começar pelos companheiros que ocupam cargos importantes. Ou como alguns dizem. O PT resiste a fugir da maldição que o cargo de Tesoureiro ganhou na agremiação.
Fernando Castilho - Escreve para o JC Negócios, do Jornal do Commercio de Pernambuco