Acho bem legal morar em uma Pátria Educadora; ou talvez fosse mais interessante viver em uma Pátria Educativa; ou quem sabe o melhor mesmo fosse ter uma Pátria Educada?
Uma análise superficial - não diferente de tantos diagnósticos políticos e econômicos que prescindem de estudos e planejamento, tão superficial quanto a decisão de pintar uma camada de tinta no asfalto e dizer que é ciclovia - mostra que, mais uma vez, o marketing não foi exatamente honesto com a população.
Marketing de banco também não é, e eles continuam com lucros assombrosos - mas isso não tem nada a ver com o assunto...
O que se espera de uma Pátria Educadora? Que ela eduque. De minha parte, estou aguardando instruções: será que o governo vai me orientar e eu terei de me matricular em algum curso? E eles vão pagar a mensalidade? Ou espera-se que absorvamos a sabedoria contida nos discursos dos homens públicos?
Se a coisa valer só em nível federal, será que compensa eu fazer algum estudo de âmbito estadual? Com todas essas dificuldades de interpretação, chego a pensar que não é bem isso que o slogan quer dizer. Mas tampouco pode ser algo ligado às escolas, ou ao teatro, ou à música, ou ao cinema, já que a verba desse pessoal foi passada na espada. Não consigo desvendar a intenção dessa palavra de ordem; vou então analisar (sempre superficialmente, é claro) a questão da Pátria Educativa.
Pátria Educativa é aquela que diariamente transmite bons exemplos ao povo. Um ministro abre a porta da sala para que a presidente entre - isso é educativo; se um deputado diz a outro "Vossa Excelência é uma anta", por exemplo, podemos ficar confusos, pois "Vossa Excelência" é uma fórmula respeitosa (apesar de totalmente inadequada nesses casos), enquanto chamar alguém de anta é pejorativo (dependendo para quem, até a anta reclama). É feio pegar dinheiro que não é seu; é feio receber dinheiro só porque você é quem manda. Não, não temos tido exemplos edificantes nesses quesitos.
Denúncia, seja premiada ou não, é coisa feia. Como não é nada bonito fazer panelinha na hora do recreio no pátio para prejudicar a coleguinha que, até ontem, era sua melhor amiga. Ou seja, nossa Pátria não é educativa.
Sobra então a terceira opção: sejamos uma Pátria Educada.
Essa sim é interessante, pois não depende das autoridades, e qualquer um pode se comportar educadamente sem ajuda federal.
Então hoje resolvi, e acordei educada. Fui gentil com todas as pessoas que cruzaram o meu caminho - para espanto da maioria, em geral desconhecidos que cumprimentei na rua. No café da manhã, dei para o meu marido o copo mais cheio de suco de laranja. Fui uma dama no trânsito - e bem hoje que resolvi ser uma pessoa melhor, um motociclista bateu no meu retrovisor; não quebrou, mas fez um barulhão; eu me assustei e engasguei com uma bala de hortelã que tinha acabado de colocar na boca.
Demorei trinta minutos para escrever um email de cinco linhas avisando à companhia telefônica que eu já havia pago a conta que eles estavam me cobrando; tudo por conta da educação.
A experiência de uma nova eu estava que era uma maravilha. Foi quando resolvi ligar a TV para me tornar uma educada informada.
Uma repórter bem didática estava ensinando a calcular com exatidão o número de anos que eu preciso ter vivido e o número de anos que eu preciso ter contribuído ( ora, contribuição não é uma coisa voluntária?) para ter direito a uma aposentadoria.
E aí a máscara caiu. Que Pátria Educada, que nada!
Aqui em casa, aposentadoria é palavrão. Estamos esperando da Justiça a resposta para um processo que suspendeu a aposentadoria do meu marido; ao analisar uma reivindicação de ajuste de valores, há sete anos, o INSS simplesmente suspendeu o pagamento do benefício. Nem o valor original, que ele recebeu durante 15 anos, voltou a ser pago. E continuamos esperando. Não há prazos estabelecidos, não há previsão.
Situações como esta, em que princípios básicos da cidadania não são respeitados, fazem com que a gente perca a paciência, e comece a pensar se essa, na verdade, não é a Pátria do Salve-se Quem Puder.
*Sílvia Zaclis - É jornalista