ARTIGO PUBLICADO ORIGINALMENTE EM O ESTADO DE S.PAULO, EDIÇÃO DE 27 DE JULHO/ 2015
Não faltaram advertências. A crise em que estamos envolvidos foi antecipada por vozes previdentes, ao longo de mais de dez anos.
Anestesiada pelo discurso lulopetista, a Nação rola ladeira abaixo, embalada por mentiras que a levaram a se convencer da força mágica das palavras.
Para se desenvolver, enriquecer, subir de condições de vida, avançar escala social, bastaria, segundo o PT, adotar o endividamento como estilo de vida. A economia subdesenvolvida ganharia corpo e solidez sem necessidade de trabalho persistente, mas à força de esbanjamento de dinheiro público, criação de ministérios inúteis, multiplicação de partidos e sindicatos, eleições de picaretas, propinas e trambiques, culminando com a exaltação da ignorância e do ridículo.
Os resultados estão aí, e será impossível revertê-los dentro do atual cenário político.
Quando a vontade popular colocou fim ao regime autoritário, e foi promulgada a sétima Constituição republicana, imaginava-se que teria início longo período de tranquilidade, segurança jurídica, zelo na administração da coisa pública. Não foi o que aconteceu. O Brasil está tão mal ou pior do que se achava em 1985. A esperança foi substituída pelo medo, a solidez da moeda pela inflação.
Da trágica experiência com a longeva administração petista, os brasileiros, desejosos de redimir, devem retirar lições. A primeira é de que não conseguiremos nos aproximar do mundo desenvolvido em quatro, oito ou dez anos. Serão necessárias várias décadas, se nos revestirmos de coragem e começarmos já. A segunda é de que o povo deve identificar e repelir políticos demagogos, homens e mulheres levianos, viciados em mentir e fazer promessas rapidamente abandonadas.
Destruídos na Segunda Guerra, Japão e Alemanha converteram-se, em menos de cinco décadas, em duas das maiores potências mundiais, graças ao planejamento a longo prazo, perseverança, disciplina, muito trabalho, e confiável poder judiciário.
Para se reconstruírem rapidamente contaram com governos eficientes, gestores austeros, rigoroso controle do orçamento, economia nos gastos públicos, esforço incansável e poupança. Trataram de impedir a inflação, recuperaram o parque industrial, incentivaram a fabricação de produtos de elevado valor agregado, desenvolveram esforços no terreno da pesquisa tecnológica, empregaram o binômio qualidade e preço como instrumento de conquista de mercados.
O Brasil, cujas perdas materiais se limitaram a navios mercantes afundados por submarinos alemães, encerrou a guerra credor dos Estados Unidos. Em poucos meses as reservas haviam sido dilapidadas em aquisições inúteis.
O governo do presidente Juscelino Kubitschek destaca-se na história do desenvolvimento. Com o programa 50 anos em 5, a industrialização avançou graças à ousada implantação da indústria automobilística trazendo a expansão do setor de autopeças.
Em 2006, ao celebrar 50 anos de atividades a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotivos (ANFAVEA) editou caderno que relata a vitoriosa história iniciada em 1956 com o pequeno Romi-Isetta produzido em Santa Bárbara dOeste, e do DKW Vemag, fabricado em galpão da Vila Carioca. Em 2007 atingiu-se a produção de 50 milhões de veículos, dos quais 10% destinados à exportação, com a geração de 1,3 milhão de empregos diretos e indiretos. O segmento se tornou responsável por 15% do PIB industrial e 6% do PIB total. Alertava a ANFAVEA, no mesmo documento, quanto à necessidade de o Brasil decidir "o que quer da sua indústria automotiva nos próximos 50 anos".
Passados 13 anos sob PT, - o partido que iria inundar o mercado com ótimos empregos-, assiste-se o colapso de empresas, o acúmulo de prejuízos, o retorno da inflação, a classe operária condenada à ociosidade.
Indústrias pioneiras, mantenedoras de centenas de milhares de postos de trabalho, perderam mercado externo e sofrem a drástica redução do interno, sendo obrigadas a demitir ou colocar em inatividade parcela dos funcionários.
Com a credibilidade reduzida a menos de 10%, a presidente Dilma Roussef está inabilitada para empreender a recuperação econômica. Os esforços do Ministro da Fazenda revelam-se inúteis, e são contestados dentro do governo. Aumentos de despesas e vencimentos, por lei ou decisões judiciais, eliminam as esperanças de se conseguir equilíbrio fiscal, e impedir o ressurgimento da corrida inflacionária.
Do Partido dos Trabalhadores nada se deve esperar ou exigir. O fracasso de quem pretendia ser exemplo de eficiência e ética nos obriga a buscar alternativas de poder.
Excluídos os nanicos, restam poucas legendas em condições de derrotar o PT. Uma delas é o PSDB, prejudicado, entretanto, pela vocação elitista e inexplicáveis rivalidades internas.
Sou avesso, porém, a soluções traumáticas e radicais como o impeachment. Jamais trarão bons resultados. Não haverá como afastar a acusação de golpe, tramado no Congresso com a cumplicidade de deputados e senadores de conduta duvidosa. Já nos bastam a deposição de Washington Luís em 1930, a derrubada de Vargas em 1945, o suicídio em 1954, a renúncia de Jânio em 1961, o movimento militar de 1964, a cassação de Fernando Collor em 1992.
No próximo ano teremos eleições em 5.570 municípios, como véspera da disputa presidencial em 2018. Aos partidos de oposição incumbe a tarefa de levá-las de vencida, para que a transferência da faixa presidencial, em 1º de janeiro de 2019, ocorra conforme as regras democráticas, com pompa e circunstância, como sucede nos países desenvolvidos.
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*Almir Pazzianotto Pinto - É advogado, foi ministro do Trabalho e presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST)