Nesses tempos bicudos, o mercado de trabalho para jornalista está mais estreito que riacho na seca (esse estilo comparativo me foi inspirado por uma colega de redação que diz coisas como "o cara é mais grosso que dedo destroncado"). Mas eis que surge uma luz no fim do túnel, e não é um trem no sentido contrário.
Há um setor de nossa economia que está ativo como nunca, e tem grandes possibilidades de crescimento. São as operações da Polícia Federal.
A cada denúncia de corrupção, cartel, merenda desviada e anexos, a Polícia Federal precisa criar um nome original para a operação a ser deflagrada.
Já tivemos operações para a Caça de Vampiros, Peter Pan, Professor Pardal, Vassourinha, Satiagraha (meu nome favorito), Loki, Pixuleco, Cavalo de Fogo, e a imbatível Lava-Jato. Toda essa movimentação tem convencido alguns analistas sobre a tendência de alta para o produto "denominações autodescritivas e criativas".
Como ensinam palestrantes motivacionais, "nada como uma crise para trazer novas ideias e sucesso financeiro".
Que tal um Curso Técnico para a Criação de Nomes Aproveitáveis para Operações Policiais (cuja sigla, para facilitar, seria CTCRINAOP); ou uma Universidade Nacional de Nomes e Quetais (UNANOQ); ou ainda Latim para Quem Quer Nomear Operações da PF, (LAQUEQUENOOP)? A demanda por tanta instrução vai dar emprego para muito professor. E, é claro, também para agentes de segurança privada, no controle das portarias.
O caráter inovador desses cursos é que ele darão direito, junto com o diploma, a um programa personalizado de proteção à testemunha para toda a família. O beneficiário poderá trabalhar em qualquer lugar no mundo, utilizando um sistema criptografado para o envio dos nomes criativos. Mas - um leitor curioso perguntaria - quem vai receber as mensagens?
Ora, técnicos formados pelo Curso de Criptografia para Nomeadores Fugidos (CUCRINOFU), latu sensu. Esse curso, on line, é mais discreto, não compromete ninguém.
Com essa expansão educacional, o número de empregos indiretos será significativo em fábricas de picotadoras de papel, de óculos de espelho (para os exilados), em tinturarias com entrega em domicílio (para prospects em encarceramento). É só dar asas à criatividade.
Já tem um grupo arrojado de corretores de seguros bolando uma apólice que cubra as despesas de advogados e catering para prisões de cunho fraudulento (o crime, não a prisão). A franquia é alta, e dizem que vai valer a pena para prisões preventivas, mas não para as temporárias. Estão trabalhando nisso.
Já me adianto e aviso que estou concorrendo a uma vaga de professora - pelo menos adjunta. No momento, estou dando tratos à bola para "vender" para a PF a Operação Tô Fora, dedicada à investigação do governo Lula.
*Sílvia Zaclis - É jornalista