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"Crise em um país da União Europeia e crise em um país da Unasul"! Por Cesar Maia*

... A América - do Sul e Central - perdeu qualquer elemento de referência que desse cobertura - inclusive política - a situações de crise que exigisse medidas de austeridade e garantisse os financiamentos no caso dessas medidas serem adotadas...

15.09.2015  |  76 visualizações
Publicado originalmente em post de 15 de setembro de 2015, no boletim do Ex - Blog de Cesar Maia


1. A grande bravata dos presidentes - ditos - de esquerda, da América Latina, foi comemorar como um grande evento terem ficado livres do FMI. Da mesma forma comemoraram como uma grande vitória sobre o imperialismo ianque liquidarem de vez com a ALCA (área de livre comércio das Américas). Da mesma forma liquidaram o Grupo Andino e o Mercosul.

2. No lugar de todos, criaram a ALBA (Aliança Bolivariana dos povos de nossa América), sob a liderança de Hugo Chávez; e a UNASUL, fórum de debates políticos e ideológicos, defensor das teses e ações populistas de seus membros. A América - do Sul e Central - perdeu qualquer elemento de referência que desse cobertura - inclusive política - a situações de crise que exigisse medidas de austeridade e garantisse os financiamentos no caso dessas medidas serem adotadas.

3. A União Europeia enfrentou, desde 2008, uma crise financeira, econômica e até política, de proporções muito maiores do que a enfrentada pela América Latina -Brasil em destaque - nos últimos 4 anos. As medidas de austeridade exigidas pela União Europeia, se por um lado tiraram popularidade dos governos, por outro deram cobertura política aos governos, pois compartilham responsabilidades. E garantem os recursos de cobertura e financiamento e refinanciamento para o caso das medidas serem aplicadas.

4. Hoje, Portugal e Espanha já iniciam um novo ciclo ascendente e nas eleições deste final de 2015, o PSD e o PP entram competitivos na disputa do poder. Grécia optou por ser uma exceção. Um novo partido à esquerda venceu as eleições uns 2 anos atrás afirmando que não aceitaria as medidas de austeridade impostas pela União Europeia. E assim o fez. Foi para o confronto. Ganhou um referendo. E a situação se tornou crítica. O carismático primeiro ministro teve que recolher seu discurso radical e estabelecer um acordo com a União Europeia. Em seguida, renunciou e chamou novas eleições. O grupo mais radical de seu partido rompeu e formou novo partido. Com isso, o Syriza se transformou num partido socialdemocrata e a dita esquerda ficou sem expressão eleitoral nas pesquisas com vistas às eleições deste final de ano.

5. Os países da América Latina - em sua rebeldia populista-- ficaram sem referência, sem piso, sem ponto de apoio. Em seu anarco-liberalismo (e não socialismo) gozaram o ciclo expansivo dos preços das commodities. Esse ciclo terminou e, agora, sem lenço e sem documento, sem ter ponto de referência e sustentação, flutuam ao sabor de um tornado que engole o Brasil, a Venezuela e a Argentina, sem ter futuro, sem ter como olhar por dentro do tubo das ondas e ver luz no fim e para onde vão.

• Cesar Maia, do DEM/RJ, ex-prefeito do Rio de Janeiro.
blogdocesarmaia@gmail.com