Artigo publicado originalmente no Diário do Poder, edição de 6 de outubro de 2015
Milton Campos foi o primeiro ministro da Justiça do regime militar. Engoliu sapos, como a cassação do ex-presidente Juscelino Kubitschek e de montes de mandatos. Não aguentou quando o marechal Castello Branco decidiu editar o Ato Institucional nº 2, que inaugurava novo período ditatorial. Foram dissolvidos os partidos políticos, suspenso o habeas-corpus, ampliado o número de ministros do Supremo Tribunal Federal, entre outras barbaridades.
Ao apresentar seu pedido de demissão, o velho professor de democracia disse ao então presidente: "Nossa diferença é que eu posso sair e o senhor tem de ficar".
... "Os novos ministros, assim como alguns dos agora remanejados, entraram segunda-feira no gabinete da presidente da República pela primeira vez. E talvez a última. Na melhor das hipóteses, condenam-se a dialogar com o novo chefe da Casa Civil e com o secretário de Governo. Se antes já havia ministros de primeira e de segunda classe, entram em campo agora os de terceira"...
A posse dos novos ministros lembra o episódio antigo. Todos os que assumiram ou se viram remanejados no Ministério podem sair. Seus motivos diferem daquele que levou Milton Campos a pedir demissão, pois a presidente Dilma não pensa em ditadura. Mas está, como Castello Branco, tutelada e sem poder. Naqueles idos, quem mandava era o Exército, com o ministro Costa e Silva à frente. Hoje, quem manda é Lula, com ou sem o PT.
O atual ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, não é nenhum campeão da democracia, mas está para o novo governo mais ou menos como o dr. Milton diante dos militares: pouco à vontade, incomodado e sem espaço. Encontra-se afastado da política, não controla a Polícia Federal nem passa pela porta dos partidos da base oficial. Suas relações com o Poder Judiciário deixam a desejar e com as Forças Armadas, nem isso. É o último dos inimigos íntimos de Lula que falta Madame mandar passear ou deslocá-lo para o Ministério dos Esportes ou das Mulheres. Há quem suponha estar o dr. Cardoso prestes a antecipar-se, pedindo para deixar a equipe governamental. Senão será deixado.
Os novos ministros, assim como alguns dos agora remanejados, entraram segunda-feira no gabinete da presidente da República pela primeira vez. E talvez a última. Na melhor das hipóteses, condenam-se a dialogar com o novo chefe da Casa Civil e com o secretário de Governo. Se antes já havia ministros de primeira e de segunda classe, entram em campo agora os de terceira. Aqueles que Dilma nem escolheu para figurantes e que estarão na dependência dos votos de deputados do PMDB e outros partidos.
A saída será reformar seus gabinetes em São Paulo, ficando na fila de audiências no Instituto Lula.
Carlos Chagas - é advogado, professor e jornalista