Artigo publicado originalmente no Blog de Claudio Tognolli no Yahoo - https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/, post de 23 de outubro de 2015
Henrique Pizzolato vai dividir sua cela de seis metros quadrados na Papuda com dois presos. A história de um deles, assim como a de Pizzolato, revela bem o substrato básico desses assessores que políticos costumam instalar aos seus lados, para lhes fazerem servicinhos e lavagens específicas.
Esse colega de cela de Pizzolato é José Carlos Alves dos Santos, delator do escândalo dos "Anões do Orçamento". Era economista-chefe da assessoria técnica da Comissão de Orçamento do Senado.
Os envolvidos no esquema dos Anões roubaram mais de R$ 100 milhões públicos, com esquemas de propina, para favorecer governadores, ministros, senadores e deputados. Em 2000, o Supremo Tribunal Federal arquivou o processo contra Ibsen Pinheiro, que retornou à política em 2004, ao eleger-se vereador em Porto Alegre. Em 2006, elegeu-se para a Câmara Federal.
Foi atribuído ao deputado João Alves de Almeida a articulação do esquema, que conhecia desde 1972, quando passou a integrar a Comissão de Orçamento do Congresso, colaborando com o Executivo ao impedir que seus colegas parlamentares fizessem mudanças em projetos. Em troca, acertava a inclusão e aprovação de emendas parlamentares entre os gastos oficiais, cujas verbas eram direcionadas para seus redutos eleitorais.
Dentre os 18 acusados de envolvimento no esquema dos anões, em que operava o companheiro de cela de Pizzolato, constam deputados federais, ministros e governadores, como Edison Lobão (PMDB). Na época ele governava o Maranhão. Seis deputados foram cassados, oito absolvidos e quatro renunciaram ao mandato.
O grupo dos Anões só foi descoberto em 1993, quando o caso foi investigado por uma comissão parlamentar de inquérito - a primeira CPI instalada após a redemocratização, em 1985. Apesar de desvendado há 21 anos, o esquema só foi formalmente denunciado à Justiça em 2002, pelo Ministério Público Federal.
Edison Lobão, estrela do grupo dos Anões, foi ministro das Minas e Energia sob Lula, de 21 de janeiro de 2008 até 31 de março de 2010, e durante todo o primeiro governo de Dilma.
Como se vê, Pizzolato está acompanhado de gente do seu DNA e do seu círculo de amigos, não?
José Carlos Alves dos Santos, colega de cela de Pizzolato, conta hoje 72 anos. Morava de favor na casa do sogro, no Lago Norte, até quando foi preso, na manhã de 13 de março de 2014.
O colega de cela de Pizzolato era casado com Crislene Oliveira, de quem, diz a polícia, teria sido amante nos anos 1990.
Tal relação gerou a crise no casamento com a então mulher, Ana Elizabeth Lofrano. Ela foi assassinada em 1992.
Resultado: o companheiro de cela de Pizzolato foi preso em 1993 e condenado por júri popular a 17 anos de prisão, em 1997. Acusações: homicídio qualificado e ocultação de cadáver. O companheiro de cela de Pizzolato terminou a pena em 2005.
O companheiro de cela de Pizzolato cumpre agora 10 anos e um mês de prisão por corrupção passiva.
Claudio Tognolli -
é jornalista há 35 anos e já passou por "Veja", "Jornal da Tarde", "Caros Amigos", "Joyce Pascowitch", "Rolling Stone", "Galileu", "Consultor Jurídico", rádios CBN, Eldorado e Jovem Pan e "Folha de S. Paulo". Ganhou prêmios de jornalismo e literatura como Esso e Jabuti. É diretor-fundador da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e membro do ICIJ (International Consortium of Investigative Journalism). Professor da ECA-USP, escreveu 12 livros.
https://br.noticias.yahoo.com/blogs/claudio-tognolli/
