Sou do contra em muitas coisas. Faço questão de perder liquidações imperdíveis. "Você não pode perder..." é uma frase que faz despertar meu lado negro. Posso, sim, perder, seja lá o que for.
Quando, na TV ou no rádio, alguém dá uma informação e depois completa "sim, é isso mesmo", fico muito irritada... Coisas como: "Com um balde e muita criatividade, um grupo de garotos da Vila Madalena descobriu a fórmula para acabar com problema da falta dágua na cidade... sim, é isso mesmo!"
Entendo a intenção de quem fala: "se o idiota que está ouvindo/assistindo não percebeu que se trata de algo muito interessante/importante, vamos chamar a atenção dele"...
Nessas ocasiões, cito sempre o saudoso professor Emir Nogueira, que um dia nos ensinou que esse tipo de truque é, na verdade, uma ofensa à inteligência do próximo.
Outra coisa são essas mensagens estilo autoajuda. Há séculos, eu mantinha um álbum de recordações em que algumas pessoas deixavam seus depoimentos; a maior parte era do estilo "rosas são vermelhas, violetas são azuis, o açúcar é doce e você também" (que mania de usar citações traduzidas, elas perdem a rima...).
Mas algumas mensagens eram mais pomposas. Uma certa vigilante da escola, que ficava de olho na gente na hora do recreio, escreveu: "Sê como o sândalo que perfuma o machado que o fere". Eu era pequena, mas não era boba. Chegando em casa, fui me informar sobre o tal sândalo e acabei descobrindo que o provérbio em tela era o conselho mais idiota que alguém poderia dar, ainda mais para uma menina de nove anos.
Nas décadas seguintes, a única bobagem que me pareceu comparável a essa foi "amar é nunca ter de pedir perdão".
Mensagens edificantes, tipo "dez dicas para alcançar a felicidade plena", são imediatamente deletadas. É engraçado ler conselhos valiosos como "regra número um: não se deixe abalar pelos problemas". Muito prático, você só não é feliz porque não quer.
Quando me mandam compartilhar alguma coisa no Facebook, dou dois passos para trás (não literalmente, é claro): eu conheço as regras (pelo menos as básicas) dessa "rede social" (tenho uma antipatia por esse termo, só Freud explica) e sei que existem uns botõezinhos no fim das mensagens que me permitem curtir, comentar, compartilhar. Se eu achar legal, vou compartilhar a mensagem. Caso contrário, não adianta me mandar compartilhar, não vou mesmo!
Não sou de beber, mas veja a situação: alguém planta a cana, outro a refina, e tem quem a transforme em pinga. Colocam numa garrafa, capricham no rótulo. E depois querem que eu "beba com moderação". Eles é que tratem de suas vidas, bebo o quanto quiser.
"Não pise na grama" faz sentido, mas a vontade de pular a cerca e pisotear o gramado é um clássico ecossocial. Nem vale mais como gesto de rebeldia. E ainda suja os pés.
E quem não se espantou com o retorno do rapaz dos comerciais da Casas Bahia? Será que a loja está querendo passar alguma mensagem subliminar ou talvez - o que seria incrível - ele realmente tenha o poder de animar as vendas? Não vou criticar, é um ator desempregado a menos. Mas tiro o som da TV sempre que ele aparece e, coincidência ou não, a loja nunca entra na minha lista quando vou fazer compras.
Tem um laboratório de remédios genéricos que anuncia bastante no rádio (sou viciada em rádio); o comercial tem como "garoto" propaganda o Ronaldo Fenômeno. Eles querem passar a ideia de que o tal laboratório é a "marca da família". Se fosse comercial de bola, chuteira, dieta, etc., eu até poderia ouvir o que o ex-jogador tem a dizer. Mas como símbolo de família? Só se for pelo fato de ele ter várias... Sinto muito, mas evito a tal marca.
Nessas coisas, ser do contra não significa ter problema com autoridade; esse comportamento está mais ligado ao ato de engolir sapos. Já que a gente tem que engolir muitos ao longo da vida, quero pelo menos ter a liberdade de ficar apenas com os inevitáveis..
Silvia Zaclis -
- É jornalista
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