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Os mata-mosquitos. Por Henrique Veltman

Esse meu esforço de memória tem apenas a finalidade de destacar a ineficiência dos serviços de Saúde deste país, incapazes de enfrentar o mosquito que há mais de um século é responsável pelas epidemias que nos assolam, herdeiras diretas da maldita febre amarela...

15.12.2015  |  33 visualizações
Quero destacar a ignorância dos nossos meios de comunicação: o combate ao mosquito Aedes Aegypti é mais importante que o impeachment de Dilma e de Eduardo Cunha, é mais relevante que a carta de Temer e o ajuste fiscal de Levy.

As crianças que estão nascendo com microcefalia vão carregar por toda a sua existência uma vida de sofrimento. E isso não está sendo tratado com a importância devida por nossa mídia.

Enfrentando uma situação inédita com os casos de microcefalia, seis Estados do Nordeste decretaram ontem, quinta-feira (10) situação de emergência para agilizar medidas de combate ao Aedes aegypti e exames para diagnóstico da doença. A principal suspeita é que os casos da má formação do cérebro de crianças tenham decorrido da infecção do zika virus, transmitido pelo mosquito.

A minha indignação é total. Procurei canalizar essa minha reação de forma mais concreta, busquei o auxilio do Projeto Oswaldo Cruz, de 2003. O resultado é o que se segue.

Em 1903, por iniciativa de Oswaldo Cruz, criou-se no Rio de Janeiro o Serviço de Profilaxia Específica da Febre Amarela. Entre outras medidas adotadas, brigadas de mata-mosquitos - agentes sanitários munidos de larvicida e instrumentos apropriados para a eliminação dos focos - passaram a percorrer a cidade lavando caixas d'água, desinfetando ralos e bueiros, limpando telhados e calhas, eliminando depósitos de larvas.

Eu lembro muito bem, na década de 1940, da inspeção mensal de nossa casa, no Beco da Mãe, em São Cristóvão, quando o soldado mata-mosquito, depois de fazer a desinfecção geral, registrava a visita mensal em um impresso que era pregado na parede.

Cada novo caso da doença deveria, obrigatoriamente, ser comunicado às autoridades sanitárias. Folhetos com instruções nesse sentido eram distribuídos não só à imprensa e à população em geral como aos médicos.

Mas essas resistências foram aos poucos sendo vencidas, em parte graças ao apoio da Missão Pasteur, composta por cientistas franceses, que, instalada no Rio de Janeiro desde novembro de 1901, comprovava a validade da operação. Poucos anos mais tarde, em 8 de março de 1907, com Afonso Pena no comando do país, Oswaldo Cruz escreveu ao novo presidente para comunicar que, "graças à firmeza e vontade do governo, a febre amarela já não mais devasta sob a forma epidêmica a capital da República".

Ou seja, há mais de cem anos, combatia-se o mosquito, eliminando os focos de larvas - e foi o que fez Oswaldo Cruz a partir de abril de 1903.

Esse meu esforço de memória tem apenas a finalidade de destacar a ineficiência dos serviços de Saúde deste país, incapazes de enfrentar o mosquito que há mais de um século é responsável pelas epidemias que nos assolam, herdeiras diretas da maldita febre amarela...

Henrique Veltman - É jornalista

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