Publicado originalmente na Folha de S. Paulo, página 2, edição de 18 de janeiro de 2016
O Centro do Rio tem uma região delicada, de prédios baixos e com 250 anos de história, entre a Lapa e a praça Tiradentes. Nas últimas décadas, ela tem sido estuprada por empresas públicas e particulares, com o aval das administrações. Quarteirões foram abaixo para a abertura de grandes espaços estéreis; a abominável nova Catedral humilhou e ananicou os Arcos; e desmontou-se o morro de Santo Antonio para abrir a avenida Chile e fazer dela um feudo das estatais.
Foi nela que a Petrobras plantou a sua sede, um dos edifícios mais horrendos da galáxia. Seguiram-se o do BNDES e o do extinto BNH, hoje servindo à Caixa Econômica, que ferem os olhos à distância. Exceto a Barra, nenhuma outra região do Rio lembra tanto Brasília. É a herança maldita de Le Corbusier e seus discípulos.
Até há pouco, com o dinheiro jorrando do petróleo e enchendo as burras do poder, faziam-se planos faraônicos para a avenida Chile. Um deles, no primeiro governo Lula, era a construção de um anexo para a Petrobras na rua do Senado, ali perto - esta, berço do barão do Rio Branco, da Banda do Corpo de Bombeiros do maestro Anacleto de Medeiros e de conspirações anarquistas.
O anexo - só agora se ficou sabendo - seria um prédio de 150 andares, com 400 m de altura (100 a mais do que o Pão de Açúcar), ao custo de alguns bilhões, a ser construído por uma empreiteira indicada por Lula. A informação é do delator Nestor Cerveró, que a teria ouvido do ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque, ambos hoje residentes em Curitiba.
O faraó queria uma pirâmide, que, por algum motivo, não se concretizou. Em seu lugar, em 2013, a Petrobras inaugurou um prédio "menor", mas, ainda assim, o maior centro empresarial do país, com 70 andares divididos em quatro torres. O faraó não se contenta com tumbas modestas.
Ruy Castro* -
É jornalista e escritor. Já trabalhou nos jornais e nas revistas mais importantes do Rio e de São Paulo. Considerado um dos maiores biógrafos brasileiros, escreveu sobre Nelson Rodrigues, Garrincha e Carmen Miranda
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