Publicado originalmente no Blog Balaio, de Ricardo Kotscho, post de 15 de março de 2015 - http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/
Os últimos lances de Lula e Dilma para salvar o governo mais parecem videocassetadas do Faustão: na primeira imagem, você já sabe que aquilo não vai dar certo - e não dá outra. São desastres previsíveis.
É o caso da anunciada ida de Lula para um superministério de Dilma, ainda não confirmada até o momento em que começo a escrever, pouco depois das 10 da manhã desta terça-feira.
Em política, que eu me lembre, não existem milagres. Seria demais esperar que o ex-presidente consiga, ao mesmo tempo, fazer a articulação política, promover a recuperação econômica e impedir o impeachment, trazendo de volta o PMDB para a base aliada, além de cuidar da sua própria defesa na Lava Jato e sem tirar o que resta de autoridade a Dilma Rousseff.
Parece-me que esta manobra de altíssimo risco chega com muito atraso - deveria ter sido tentada no início do segundo mandato, quando o quadro já era preocupante - e não agora, num momento de desespero, depois de tudo o que vimos nas manifestações de domingo, em que ficou evidente o divórcio entre o governo e as ruas.
Minha colega Cristina Lemos, da TV Record em Brasília, contou no JRN de ontem à noite que ouviu de um ex-ministro de Lula ser esta tentativa a "bala de prata" para tirar o governo Dilma das cordas. Não havia outra saída.
A última vez que ouvimos esta expressão, é bom lembrar, foi no início do governo de Fernando Collor, quando ele confiscou a poupança para derrubar a inflação. Sabemos como a história terminou. O perigo é acertar a bala na própria testa, uma cena que pode fazer sucesso com atiradores inábeis nas vídeocassetadas do Faustão.
Desta vez, seria conveniente que o governo fizesse muitas consultas jurídicas antes de tomar a decisão sobre a entrada de Lula no Ministério, já que o ex-presidente está sendo investigado pela Lava Jato, para evitar outro vexame como aconteceu com aquele agora ex-ministro da Justiça, que ficou apenas 11 dias no cargo, por impedimento legal.
Enquanto isso, na vida real, sai a notícia de que a taxa de desemprego disparou em 2015, chegando a 8,5% da população economicamente ativa, a maior taxa da série histórica. Para se ter uma ideia do que isso representa, o total de desocupados aumentou 40,8% nos últimos três meses do ano passado, em relação ao mesmo período de 2014, atingindo um total de 2,6 milhões de brasileiros.
Nas médias anuais, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do IBGE, a população desocupada foi de 6,7 milhões de pessoas para 8,6 milhões em doze meses, quase dois milhões de desempregados a mais.
E o dia está só começando.
**Ricardo Kotscho é jornalista. Trabalhou nos principais veículos da imprensa brasileira como repórter, editor, chefe de reportagem e diretor de redação. Foi correspondente na Europa nos anos 70 e Secretário de Imprensa e Divulgação da Presidência da República no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Ganhou os prêmios Esso, Herzog, Carlito Maia e Cláudio Abramo, entre outros.
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