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O que é a corrupção. Por Nelson Ascher

Pois bem: ou são idiotas completos ou acham que nós é que somos. Digamos que um sujeito é pago pra administrar uma companhia aérea. Os aviões estão envelhecendo. Precisam de mais reparos, manutenção, peças novas. Alguns já precisam ser trocados...

22.03.2016  |  113 visualizações
Post do autor publicado no Facebook, 21 de março de 2016


Pô, gente. Um apezinho de estrume no Guarujá mais um sitiozinho idem e um par de pedalinhos de estrume? Que mesquinharia! Quanto vale esse estrumezinho todo? U$ 1 milhão? U$ 2 milhões? U$ 10 milhões? Dividam isso aí por 200 milhões de brasileiros e por 8 anos. Não é nada. Centavos. E vocês ficam se escandalizando com isso? Param o país por uma merreca dessas? Onde é que vocês estão com a cabeça?

No fundo é isso aí o que dizem/pensam os defensores do regime.

Pois bem: ou são idiotas completos ou acham que nós é que somos.

Digamos que um sujeito é pago pra administrar uma companhia aérea. Os aviões estão envelhecendo. Precisam de mais reparos, manutenção, peças novas. Alguns já precisam ser trocados.

A companhia é rentável. Tem dinheiro em caixa. E o administrador faz o orçamento disso tudo. Mas ele também conhece gente que trabalha com aviões. Eles não mexem na mecânica, mas fazem assentos. Os da companhia não precisam ser trocados, mas o conhecido oferece uma porcentagem para trocar todos os de todos os aviões da companhia. Obviamente por um preço acima do mercado. O administrador topa e usa a grana que serviria para reparar, digamos, os lemes. Ninguém nota nem reclama. E há até quem gosta dos novos assentos.

E assim a coisa continua, com toda a grana da manutenção, reparo, trocas, novos aviões, sendo usada para obras cosméticas e desnecessárias.

Talvez um piloto ou outro, algum comissário de bordo etc. comece a se preocupar. Isso se resolve com aumentos de salário, acordos com o sindicato etc.

Aí os aviões começam a cair um depois do outro. Além disso, num dos voos fatais estava metade das telas de Caravaggio sendo trazidas para uma exposição. Um outro acidente mata todo pessoal do principal congresso de oncologia. Famílias, firmas, projetos, obras existentes ou futuras, ideias, investimentos, novos remédios e tratamentos etc. Tudo isso é destruído junto com os indivíduos. E a companhia aérea poderia ter auxiliado todos eles e poderia ter sido uma peça importante na realização disso tudo. Há, enfim, um prejuízo calculável em bilhões ou trilhões e mais outro incalculável.

O que pensar do administrador responsável por tudo isso, se ele causou esse prejuízo inteiro em troca de um sitiozinho de estrume com dois pedalinhos e de um apezinho de praia idem?

Chamamos isso de corrupção por falta de um termo preciso e adequado. Mas cabe muita coisa nesse trissílabo.

Nelson Ascher - Jornalista e crítico literário

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