A foto de Luiz Inácio dando uma banana a seus adversários e críticos foi aproveitada por jornais e revistas. Ela ilustra reportagens e comentários sobre algumas daquelas edificantes conversas gravadas em que se ouve seu linguajar colorido.
O gesto consiste no seguinte, como lembram todos, talvez sem saber a origem de seu verdadeiro significado:
Bate-se com a mão na articulação interna (ou no cotovelo) do outro braço, que se ergue, o punho fechado.
Antes disso,
Veja havia publicado na capa foto do jogador Daniel Alves para representar a resposta a torcedores espanhóis que o haviam ofendido com mímica e grunhidos racistas representativos de macacos. Daniel apanhou a banana jogada no campo, descascou-a e deu-lhe uma mordida antes de bater o escanteio.
E
Veja SP já publicara na capa a apresentadora de TV Rachel Sheherazade com o bananoso aceno aos seus críticos. Ela havia sido proibida por Sílvio Santos de fazer comentários na apresentação do jornal televisivo da emissora, depois de ter-se manifestado a favor de violência contra marginais. Houve muitas reações negativas, e Sílvio Santos preferiu evitar atritos.
Dada a frequência do uso sem cerimônia do bananento gesto, parece que a maioria das pessoas ignora que ele significa bem mais do que desdém e desprezo. Bem mais: tem o mesmo significado da exibição do dedo médio em riste, gesto aparentemente inventado pelos americanos para mimosear motoristas irritados e outros desafetos eventuais. Algo com o mesmo significado do sonoro "vão tomar caju", aquela decorosa expressão com que Luiz Inácio já havia brindado a moçada da Lava Jato e outras pessoas que desama. Nada estranho, portanto, ao descontraído, rico, rouco e rubro vocabulário usual inaciano.
O fato é que herdamos de Portugal, onde é ou era comum, o
dar bananas, obsceno pelo menos na origem. Significa o mesmo que
"manguito, dar manguito, apresentar as armas de São Francisco", diz Mário Souto Maior em seu Dicionário do Palavrão e Termos Afins, (5ª edição, Record, 1990). O braço empinado, mão fechada, é símbolo um tanto evidente.
Souto Maior lembra que na Itália o gesto vulgar tem o nome de
farmanichetto; e na Espanha,
hacer um corte de mangas. Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), citado por Souto Maior, aponta o cupido no quadro de Joseph-Marie Vien (1716-1809),
La Marchande dAmours, que faz o angelical gesto bananífero.
Numa das acepções do verbete dedicado à saudável banana, o Houaiss registra
"gesto ofensivo que consiste em dobrar o braço com a mão fechada, segurando ou não o cotovelo com a outra mão; manguito". Mas não lhe revela o grau de ofensa. O Aurélio só aponta o gesto no verbete "manguito". No Aulete Digital,
"gesto grosseiro e ofensivo que consiste em dobrar o braço com o punho fechado, apoiando ou não a outra mão na dobra do cotovelo; MANGUITO."
Nem é preciso lembrar que a banana dá nome à expressão e simboliza o gesto por causa de alguma semelhança indecorosa com certo apêndice masculino quando em impertinente estado de alerta máximo.
Coisa lamentavelmente deselegante em público e quando desnecessário.
Josué Rodrigues Silva Machado, jornalista, autor de "Manual da Falta de Estilo", Best Seller, SP, 1995; e "Língua sem Vergonha", Civilização Brasileira, RJ, 2011, livros de avaliação crítica e análise bem-humorada de textos torturados de jornais, revistas, TV, rádio e publicidade.
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