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Isto aqui é Rio de Janeiro. Por Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa

... Na verdade, o ideal é que não houvesse lugares onde o mal triunfe sempre sobre o bem. Mas já que isso, aparentemente, é inevitável, ao menos que a cidade procure dar mais proteção a quem a visita..

12.08.2016  |  251 visualizações
Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 12 de agosto de 2016

Dirigir no Rio de Janeiro, decididamente, não é simples. Não basta ter carteira de habilitação válida, nem que o motorista seja um ás do volante.


O que é muito importante é que ele saiba interpretar as placas de sinalização e que nunca, jamais, em tempo algum, se fie apenas nos GPS da vida.


Nada contra o GPS, que fique bem claro. Em condições normais, ele é um auxiliar e tanto. Mas o Rio é uma cidade cheia de meandros e não há aplicativo que possa orientar com certeza por onde o motorista deve trafegar.


Moro aqui desde 1940 e tirei minha CH em 1956. Minha mãe dizia que eu montei no meu alazão - meu saudoso Fusca - e nunca mais apeei. É verdade. Amo dirigir.


Já dirigi na Europa e nos EUA e nunca tive problemas de orientação, por um simples motivo: tinha sempre comigo um bom mapa da região onde estava, que sempre estudei antes de me locomover de um lugar ao outro. E mais importante que tudo: podia confiar nas placas de sinalização.


Também não é imprescindível que o turista saiba nossa língua. As placas não precisam ser bilíngues. Em Portugal, que já percorri de norte a sul, também tomei sempre o cuidado de ter comigo bons mapas e de cuidar de obedecer às placas muito eficientes das ótimas estradas portuguesas.


O que é fundamental é que as placas sejam claras, bem cuidadas e colocadas onde são mais necessárias.


Anteontem dois policiais da Força Nacional foram baleados ao entrar, por engano, em uma das subdivisões do Complexo da Maré. Vindos de outros estados, Roraima e Piauí, eles não conheciam o Rio e confiaram no GPS. Aconteceu com eles o que já aconteceu muitas outras vezes. Mal orientados, foram parar na favela Vila do João, onde os traficantes não perdoam: atiram para matar.



bug20and20granny...Moro aqui desde 1940 e tirei minha CH em 1956. Minha mãe dizia que eu montei no meu alazão - meu saudoso Fusca - e nunca mais apeei. É verdade. Amo dirigir.



As placas de sinalização aqui no Rio não duram muito no estado em que foram colocadas pela CET- Rio. Ou são furadas à bala, ou são pichadas, o que as torna inelegíveis. Ou não são colocadas onde mais são necessárias: chamando a atenção para a entrada das favelas onde o tráfico impera. Tais placas deveriam ser repetidas algumas vezes, bem antes desse acesso fatal, o que permitiria ao motorista seguir pelo bom caminho.


Mas não serve que sejam iguais às outras placas. Essas deveriam ser em vermelho e letras garrafais para alertar quem não conhece a cidade. Ou quem a conhece mas não a conhece inteiramente: o Rio não é uma aldeia.


Na verdade, o ideal é que não houvesse lugares onde o mal triunfe sempre sobre o bem. Mas já que isso, aparentemente, é inevitável, ao menos que a cidade procure dar mais proteção a quem a visita.


Ou a quem nela vem trabalhar, como é o caso de Hélio Vieira de Andrade, o soldado roraimense que, gravemente ferido, não resistiu e acaba de falecer no Hospital Salgado Filho, segundo ouço na Globo News.


Não há alegria pelos Jogos Olímpicos que abafe a tristeza pela morte do jovem Hélio ou que console pelo sofrimento de sua família.


Que o policiamento agora reforçado na Vila do João permaneça para além do encerramento dos Jogos Olímpicos. Pelos cariocas, pelos brasileiros, pelos visitantes estrangeiros.


[FOTO DE ABERTURA:A cruel ironia de uma placa estúpida (Foto: José Lucena / Futura Press / Estadão Conteúdo)]

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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* - Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
https://www.facebook.com/mhrrs e @mariahrrdesousa

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