Publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 28 de outubro de 2016
Leio em
O Globo artigo do renomado jurista, mestre e diretor da Faculdade de Direito da Fundação Getúlio Vargas, Joaquim Falcão, que ao votar nulo estou me resignando, aceitando o provável resultado, votando no vencedor.
E mais: que ao não votar, ou ao votar em branco, estou contribuindo para a vitória de alguém em quem não confiei com meu voto. É verdade. Mas isso não quer dizer, em absoluto, que ficarei resignada por ter contribuído para essa vitória. Ao contrário, ficarei exatamente como estou agora, revoltada. Sem, no entanto, ter como demonstrar de outro modo o tamanho de minha revolta. Só me resta recusar a escolher entre o ruim e o pior aquele que vai administrar minha cidade.
Voto há 60 anos. Quantas vezes já votei? Quantas foram as vezes em que votei entusiasmada? Quantas as que votei apenas porque era obrigada, mas sem estar plenamente convencida que aquele era o melhor nome?
Há tantas coisas importantes a serem modificadas no Brasil, tantas reformas precisam ser feitas, todas imprescindíveis. Na realidade, o Brasil precisa é de uma Reforma Geral.
Mas eu começaria pela Reforma Política. E nela, pela reforma eleitoral. Acabaria com a obrigatoriedade do voto. É um direito? É a maneira que eu tenho de participar dos destinos de meu país? É o modo que tenho de aceitar ou reprovar os candidatos que se apresentam? Como posso fazer isso a não ser votando ou não votando?
Reformaria, de pronto, essa curiosa interpretação de que o Voto Não é um voto a ser computado aos votos do ganhador. Não é essa, certamente, a intenção do eleitor.
Durante muitos anos acreditei que a democracia - "esse sistema que é o pior excetuando-se todos os outros" - era alimentada pelos nossos votos. Hoje já penso diferente. O que precisamos é encontrar um modo de participar das decisões dos partidos e ter voz ativa na escolha dos candidatos que apresentarão para nossa escolha, com plataformas que digam exatamente a que vêm e o que pretendem fazer depois de eleitos.
Os partidos deveriam ter, obrigatoriamente, regras mais rígidas para aceitar filiados, ser mais exigentes na escolha dos nomes que os compõem.
......Que esse brado de alerta, o Voto Não, seja levado a sério. É fruto da mistura perigosa do desencanto com os políticos com o protesto contra tudo que temos visto em nosso Brasil.
No dia em que votar for facultativo, os partidos certamente cuidarão mais dos nomes que vão apresentar aos eleitores.
Não tenho certeza se o
Voto Não será o grande campeão nestas eleições. Parece que é assim que se apresenta o panorama eleitoral. Mas o que mais me interessa é que na hora das análises sobre o Voto Não, deixem de encontrar desculpas para esse gesto do cidadão. Muitos não votarão por não ter dinheiro para a passagem, muitos por estarem acamados, muitos por já estarem com mais de 70 anos. Mas podem estar certos de uma coisa: se o ambiente político estivesse saudável e os candidatos entusiasmassem, não haveria tantos votos em branco, nem tanta abstenção.
Que esse brado de alerta, o
Voto Não, seja levado a sério. É fruto da mistura perigosa do desencanto com os políticos com o protesto contra tudo que temos visto em nosso Brasil.
Para a atenção irrestrita a esse brado,
Voto Sim.
____________________________________________________
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* - Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
https://www.facebook.com/mhrrs e @mariahrrdesousa