Nós somos um povo de palavra fácil. Os estrangeiros que aqui vêm ficam satisfeitos com nossa acolhida, damos atenção, somos camaradas e gentis com nossos visitantes. Já morei fora e creio poder afirmar que isso é raro acontecer em outros países.
Ao conversar com um morador do lugar onde estamos, temos a sensação – por vezes ilusória, é verdade – de conhecer melhor o país que visitamos.
Acima do Equador é raro iniciarmos um papo num bar, numa sala de espera, num trem. Aqui, basta às vezes uma palavra para iniciar uma relação cordial ou mesmo só uma maneira agradável de passar o tempo. Nisso o Brasil é mestre.
Mas nem sempre isso é uma qualidade. Às vezes pode ser um defeito e tanto.
Dou como exemplo a palavra fácil dos nossos togados. Andam falando demais os nossos juízes. Vejam o quanto fala o Ministro Gilmar Mendes que em muito boa hora nos recordou o grande Américo Pisca-Pisca, de quem é um lídimo representante.
Pensando nisso leio no Blog do Noblat um artigo cujo tema é “Outra forma de escolher ministro do STF”. Comenta o autor que está para ser votada uma proposta de emenda constitucional (PEC) do senador Lasier Martins (PSD-RS) “que altera mandato e forma de escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela sugere que uma comissão formada por sete importantes juristas indique, após 30 dias da abertura de uma vaga no STF, três nomes ao presidente da República para que escolha entre eles um novo ministro”.
Pouco entusiasmada com a proposta do senador gaúcho, esta autêntica representante do Reino da Palavra Fácil, sem a menor qualificação jurídica para tratar de assunto tão relevante, começa a esboçar um artigo sobre uma ideia que teve: os ministros do STF seriam escolhidos por concurso público! Animada, telefono para um grande amigo, meu afilhado de casamento, Procurador da República aposentado, e conto-lhe o que estou fazendo. Ele, como sempre paciente, ouve calado minhas palavras agitadas e depois pergunta: “Quem organizaria o concurso? Quem redigiria as perguntas? Quem corrigiria as provas e daria as notas?”.
Logo vi que não era por aí que teríamos um Supremo Tribunal Federal como já tivemos há alguns anos, com ministros calados, reservados, discretos, mais preocupados em julgar do que em serem julgados...
O que precisamos, e disso esta Palavra Fácil não abre mão, é de um Senado composto por senadores cultos, bem preparados e dispostos a uma sabatina mais preocupada com o Brasil do que com seus partidos políticos.
E tenho mais um palpite a dar: os candidatos a ministro do STF não fariam aquela romaria em busca de votos pelos gabinetes dos senadores.
O ideal é que só fossem visitar o Senado Federal no dia de sua sabatina...
Que tal? Concordam?
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* - Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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