Artigo publicado originalmente no Blog de Ricardo Noblat, 7 de julho/ 2017
Não sei quem criou a expressão bala perdida, nem quero saber. Perdida por quê? Porque não atingiu o alvo desejado e foi pegar quem não devia? Queria eu que as balas atiradas durante as batalhas entre polícia e bandidos se perdessem, sim. Que fossem parar na p.q.p.
Mas não, elas não se perdem, elas vão se aninhar no corpo de inocentes que têm o azar de viver ou de estar passando nas áreas onde a batalha diária aqui no Rio já perdeu a característica de tentativa de sanear a cidade e transformou-se numa guerra civil disfarçada.
“Onde nossas crianças estão a salvo”, pergunta o jornal O Dia. Pergunta que eu repito. Pergunta que ninguém sabe responder.
Insegurança é palavra com pouca força para definir o que estamos sentindo. Creio que a definição correta do sentimento que invade a alma do carioca e do fluminense é medo.
Medo, pavor, só isso explica a inação da sociedade, o fato de ainda não termos ido para as ruas cobrar de nossas autoridades ações positivas para resolver o descalabro que tomou conta de nossa Polícia e exigir que o Governo Federal use de suas prerrogativas para exigir que as Forças Armadas cumpram parte vital de suas funções, a manutenção da Lei e da Ordem em nosso território e a fiscalização rigorosa de nossas fronteiras.
Ou o Rio de Janeiro não faz parte do território nacional?
A Imprensa tem feito sua parte, noticiando o dia a dia trágico e assustador que vivemos. Os números são terríveis e não duram 24 horas. Ontem O Globo lido logo pela manhã falou em 632 vítimas atingidas por balas, sendo que 67 mortas. Qual será a estatística de amanhã?
Disse o Secretário de Segurança do Rio no programa Estúdio I, da Globo News, que o confronto entre policiais e bandidos não é recomendável, mas pode estar acontecendo.
Pode?
Segundo ele, o cidadão liga para o 190 pedindo ajuda, a polícia vai atender a ocorrência onde quer que o caso esteja acontecendo, seja lá onde for, perto de uma escola, de um hospital, de uma igreja. “A polícia atende a uma demanda da sociedade” e nesse momento pode ocorrer um desvio, um erro operacional, um acidente fatal.
E tem gente se preocupando se vai ou não ter Carnaval?
Deus do Céu, o que houve conosco?
Qual a solução, então? Que tal copiarmos o que Nova York fez há uns 30 anos atrás, quando sua polícia estava corrupta, violenta, descontrolada? A solução foi a óbvia: as autoridades enfrentaram com coragem e determinação esses problemas, reformando e reformulando seus batalhões.
E é disso que precisamos: coragem e determinação das autoridades e instituições governamentais. O economista Daniel Cerqueira, técnico do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e especialista em economia do crime e segurança pública, considera que o Rio vive hoje um verdadeiro descontrole:
“Cada grupo de policiais, cada batalhão, faz suas operações e sai atirando a esmo, matando, morrendo. Estamos vivendo uma verdadeira anarquia no sistema de segurança do Rio. É preciso superar isso”.
O que não dá é para estarmos pranteando diariamente nossas crianças, deixando famílias dizimadas, infiltrando a desesperança no coração de nossos jovens.
Temos em estado crítico numa UTI um brasileirinho que ainda não tinha nascido. Ou melhor, que ainda não nasceu...
E tem gente se preocupando se vai ou não ter Carnaval? Deus do Céu, o que houve conosco?
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Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa* - Professora e tradutora. Vive no Rio de Janeiro. Escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005. Colabora para diversos sites e blogs com seus artigos sobre todos os temas e conhecimentos de Arte, Cultura e História. Ainda por cima é filha do grande Adoniran Barbosa.
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