A mais nova arma não letal que vem sendo usada aqui para expressar desagrado e beicinho é geometricamente perfeita. Não para em pé, verdade, mas seu formato, exatamente nele inspirado, o oval, é bonito e serve bem para um monte de coisas. Se fresquinhos, recém-postos, postura; se no ninho, ninhada; na panela, se vira todo.
Frágil, delicadinho, o ovo está sempre no meio das polêmicas. Já começa do princípio de sua própria existência. Quem nasceu primeiro? O ovo ou sua mãe? A galinha? A pata? Ovos de quê? A humanidade se depara com suas grandes questões. Seria a Terra oval? - perguntaram-se até os conquistadores, abrindo aí dissidência histórica com o redondo, com o quadrado, isso sem esquecer o retângulo, ou o losango e suas arestas.
Para ficar em pé precisa de suporte. Para chocar precisam ser aquecidos.
Sua geometria, contudo, faz com que, atirado, voe célere pelos ares se partindo no alvo, esparramado, esbanjando seu amarelo e branco pegajoso. Andam voando para cima de quem se apresenta fora da hora para a missão impossível que se torna a cada dia o quadro eleitoral a se definir ano que vem. Homens públicos ressuscitarão o hábito de usar elegantes e bem dobrados lenços de pano em seus bolsos. Talvez se ressuscite também o galante que o oferece a uma mulher que chore ao seu lado, ou que dele necessite que seja estendido sobre uma poça de água.
Ovo jogado dá boa foto, vira notícia. Só precisa ter bastante cuidado para carregar o armamento, que pode fazer estrago se quebrado, rompido dentro da bolsa. Aí mostra seu pequeno, mas porcalhão, potencial ofensivo. Não é bomba que estoure no colo. É arma infantil.
Por aqui o bombardeio é assim leve, embora gaste alimento tão nutritivo. Certo que ele tem fases: épocas em que é execrado, bandido, vilão, assassino silencioso. No momento, pelo menos nesse sentido, os ânimos estão apaziguados e até indicado está sendo para fortalecer o corpo, fonte de nutrientes, proteínas, e sabe-se lá mais quanta coisa que aparece a cada dia, impressionante, para elogiá-lo. Coma pelo menos um ao dia. Já apareceu quem coma mais de 30 para ficar fortinho – mas esses dizem que separam a gema – ficam só com a clara.
Do branco ou do caipira. O preço está pela hora da morte.
Cozido, frito, mexido, batido, cru, mole, duro – é dinâmico esse moço dentro da sua casquinha. E, se do limão faz-se a limonada, dele os políticos fazem um omelete quando se mostram coitadinhos indignados pela perseguição de um desses elementos dos quais tentam sempre se esquivar, e que tanto os humilham.
Ovos voam em todas as direções, vindos da esquerda e da direita. Se servissem para algo, logo viriam os que gostam de pisar no tomate. Em ovos, pisamos nós.
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Marli Gonçalves, jornalista – Precisamos rever nossas armas. Antes que o façam.
SP, 2017
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