Morou? ( entendeu, compreendeu, manjou, sacou, apreendeu, atinou, captou, percebeu? ) Já fui logo correr atrás de uma gíria bem de época para poder combinar com o climão geral. É uma brasa, mora! Ele já deu entrevista dizendo com todas as letras que jamais seria político, mas voltar atrás no que já se disse, e esquecer o que se escreveu ou prometeu, é praxe por aqui, e ele não será mesmo nem o primeiro nem o último. Como se moverá Sergio Moro nesse tabuleiro?
Não aguentei o ar de suspense em torno da decisão do juiz Sergio Moro de aceitar ser o xerife do novo Governo Bolsonaro, ops, aceitar ser o Super Ministro da Justiça + Segurança Pública + Funai + CADE + PF + uma penca de órgãos. É de um amigo a melhor definição sobre o fascínio e atração do poder: a limusine na porta. Essa limusine veio caprichada, com o tanque de combustível tão cheio que pode chegar até a próxima eleição, daqui a quatro anos. Se não for abalroada, porque também pelo que assistimos não faltarão inimigos, que esse povo é mesmo uma brasa, mora!
Primeiras sugestões: tirem os espelhos das salas. Comprem paletós para os egos. Aumentem as soleiras das portas. Não bebam nada que oferecerem. Não aceitem bombons de estranhos. Rezem. Depois penso outras formas de sobrevivência no habitat Bolsonariano.
Mas tudo vai depender de tudo, morou? Primeiro de não ocorrer nenhum pega interno, por exemplo, com o astronauta Marcos Pontes, que deve estar se mordendo todo. Indicado Ministro da Ciência e Tecnologia, despencou do noticiário assim que o Moro apenas informou que iria se encontrar com Bolsonaro para conversar e decidir. E logo já chegou ao Rio de Janeiro com uma nota oficial prontinha no bolso do paletó. Prevenido, esse juiz.
Imaginem a ciumeira geral e aquele certo temor. Afinal, ninguém sabe ao certo a dimensão de tudo o que o paladino juiz sabe, ouviu, leu, guarda na toga, esconde atrás do sorriso enigmático.
De um lado cartada de mestre de Bolsonaro - “mito” atrai “mito” para perto de seu controle - não consigo deixar de pensar, porém, que também ele arrumou uma boa sarna para se coçar, abriu a porta de casa ao único e maior rival que poderia ter nesse momento. O povo brasileiro resolveu acreditar que existe e sair atrás de seres novos para arrumar os trilhos.
Ao mesmo tempo, também muito espertamente, com Moro, Bolsonaro alivia as próprias costas, divide as responsabilidades.
Heróis, paladinos, donos da verdade no Céu e na Terra, concentração de poderes, emissão contínua de motes religiosos, juntando gente certinha, aparadinha, tradicional. O momento que se espalha pelo país é masculino, branco, cara lavada, usa cashmere jogado nos ombros, passa gel no cabelo, adora uma camisa branca engomada, um terno cinza mal cortado. Não tem brinquinho, barba, nem tatuagem, rabo-de-cavalo e tiara, então nem pensar. A República agora é “Barra da Tijuca”, classe média, zóio azul, vai em outro hospital, e até o time para o qual torce não tem só preto e branco.
É aguardar no que vai dar, e logo, o que vai mudar até na moda e costumes que espalharão. Não será uma revolução nem um golpe. Dois meses até a posse e ainda muita água pra rolar debaixo das teias que Bolsonaro planeja montar e que já atraem as moscas azuis.
Está tudo tão rápido que até resolvi fazer e convido você a participar: um programinha - faço gravações quase diárias #ADEHOJE, #ADODIA, em vídeos curtos e naturais de conversa ou mesmo desabafo sobre as incertezas do momento e o nosso inabalável otimismo e vontade de que as coisas deem certo, mesmo quando ficamos com os dois pés atrás. Nas redes sociais, Facebook, Instagram, no YouTube, no site e no blog. Me acha, vai!
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Marli Gonçalves, jornalista – A gente precisa ficar conversando o tempo inteiro, para ninguém dormir no ponto.
Brasil, Final de 2018, na organização para andar
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