Capa

Artigos

Cem dias, sem calma. Coluna Carlos Brickmann

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE DOMINGO, 14 DE ABRIL DE 2019

13.04.2019  |  182 visualizações

 

Resultado de imagem para 100 DIAS

 

Passados cem dias do Governo Bolsonaro, com alas internas em luta, com projetos importantes atrapalhados por brigas desnecessárias, com inesperada queda de popularidade, o presidente decidiu reverter o quadro: em 18 atos, colocou na linha de frente medidas há longo tempo defendidas por bons economistas – como a autonomia do Banco Central, com mandatos fixos para seus diretores, reduzindo a influência política na defesa do valor da moeda; leis desejáveis, como a proibição, ao menos no Executivo, de rapapés e formalidades do tempo do Império; e uma ação que lhe dará popularidade maior, o 13º salário para quem recebe a Bolsa Família.

O Banco Central nasceu com autonomia, e nos idos de 66 já controlava a inflação. Mas estávamos na ditadura que, dizem, não houve, e o marechal Costa e Silva mudou tudo: deu o comando do Banco Central ao Ministério da Fazenda. A inflação cresceu bem, obrigado, e só foi vencida nos anos 90. Voltamos à posição correta: a defesa da moeda é maior que os governos. E, antes que digam que o presidente está fazendo demagogia ao se apropriar da ideia da Bolsa Família, implantada por Lula, é bom lembrar que distribuir dinheiro aos necessitados (em vez de dar-lhes serviços gratuitos) é a base do Imposto de Renda Negativo, ideia de Milton Friedman. E é bom lembrar que o superministro Paulo Guedes é discípulo de Friedman, membro da Escola de Chicago. Palpite deste colunista: a Bolsa Família tende a se ampliar.

Repassando

Vários teóricos liberais (que, no Brasil, seriam “de direita”) defenderam a entrega direta de dinheiro aos pobres. Como disse o economista austríaco Hayek, em visita ao Brasil, não adianta dar leite a quem quer farinha. É melhor dar dinheiro para que cada um o use conforme sua preferência, e não obrigá-lo a consumir o que não quer. No Brasil, o senador Suplicy, “de esquerda”, foi o grande batalhador desta causa “de direita”.

Como funciona o Imposto de Renda Negativo, de Milton Friedman: estabelece-se uma renda de corte. Como, por exemplo, R$ 5 mil mensais. E um imposto, digamos, de 20%. Quem ganha mais de R$ 5 mil mensais paga, sobre o excedente, um imposto de 20%. Quem ganha menos recebe o suficiente para cobrir metade do que lhe falta para completar R$ 5 mil mensais. E os penduricalhos, tipo Leve Leite, água grátis em favelas, tudo isso acabaria. Muitos impostos seriam substituídos por este. E por que este colunista acredita na ampliação do Bolsa Família? Porque Paulo Guedes acredita nele e manda no pedaço. E porque mais Bolsa Família quer dizer mais popularidade para o presidente.

Senhor, senhora. E está ótimo!

Há quem diga que, num país cheio de problemas, não tem sentido proibir expressões como Vossa Excelência, Exmo. Sr. Professor-Doutor, ou o incrível Vossa Magnificência. O Império caiu há mais de cem anos e não há sentido em manter títulos desse tipo. Imagine que o caro leitor ache que um determinado ministro é uma besta quadrada, mas seja obrigado a chamá-lo de Excelência, como se o achasse excelente. E aquele reitor que, a seu ver, para burro só lhe faltam as penas, é Vossa Magnificência. Ridículo. Já vi, numa CPI, gente gastando tempo para explicar a uma testemunha que, caso fosse parlamentar, deveria tratá-lo de Vossa Excelência; caso não fosse, de Vossa Senhoria. Bolsonaro fez um gol. É uma lei que, espero, pegue.

Vai passar

Pesquisa publicada pelo jornal Valor Econômico mostra que 201 congressistas devem votar pela aprovação da reforma da Previdência. O número ainda não é suficiente, mas cresceu 35% de março para cá. A tendência é de que a reforma passe, embora com modificações.

Cada vez aumenta mais

O ministro Onyx Lorenzoni justificou os tropeços dos primeiros cem dias de Bolsonaro dizendo que o presidente está fazendo os mesmos ajustes que Felipão, técnico do Palmeiras, fez no ano passado e deram certo. Onyx entende de futebol o mesmo que de articulação política. O Palmeiras de Felipão perdeu a final do ano passado para a Corinthians em seu estádio, depois de gastar R$ 60 milhões em reforços. Neste ano, está fora das finais, eliminado pelo São Paulo. Na última Copa que dirigiu, Felipão levou de 7x1.

Boa notícia

A projeção da safra deste ano é de 235,5 milhões de toneladas. Garante a alimentação interna e o superávit nas contas externas.

Está preso. E daí?

O ex-presidente Lula, preso há pouco mais de um ano, espera que o STJ julgue o recurso que apresentou. Está tudo pronto e o recurso deveria ser julgado nesta semana. Como um ministro faltou, por questões particulares, o julgamento foi adiado. A semana que vem é Semana Santa. Portanto, o caso só será julgado no dia 23. A ideia de que a Justiça tarda mas não falha é falsa.

A Justiça, quando tarda, é falha – seja para condenar ou absolver.

_____________________________________________________________

COMPARTILHE

ASSINE NOSSA NEWSLETTER NO SITE CHUMBOGORDO (WWW.CHUMBOGORDO.COM.BR)

___________________________________________________

COMENTE:

carlos@brickmann.com.br
Twitter: @CarlosBrickmann
www.brickmann.com.br