Não, não precisamos do poderio militar dos Estados Unidos: os votos de nosso eleitorado começam hoje a mostrar que Lois Lane, privada do apoio de seu amado Super Homem, é muito mais frágil do que imaginava. Ms. Lane tinha decidido não participar da campanha municipal, mas não resistiu: achou que Russomanno ia ganhar em São Paulo, que Crivella ia se reeleger no Rio, que a Delegada Patrícia iria surrar a família Campos/Arraes, que tem dois candidatos no Recife. Beleza: ganharia de Doria e do PT em São Paulo, desses extremistas de esquerda (sim, acredita nisso) no Recife, e mostraria que o Rio, onde há tantos problemas judiciais, é área de seus eleitores.
Russomanno disputa hoje a chance de ir para o segundo turno com Boulos e Márcio França – e, embora nenhum dos três tenha muitas possibilidades de enfrentar Bruno Covas no segundo turno, imagine a humilhação de perder a vaga para o PSOL de Boulos. Crivella está longe do favorito Eduardo Paes e tenta superar a delegada Martha Rocha para poder apanhar só no segundo turno. A Delegada Patrícia é uma simpatia, fala bem, enfrenta as oligarquias das famílias Campos, Arraes e Mendonça, mas será uma surpresa se não ficar atrás de todos. Com um detalhe saboroso: o apoio do Robin que ficou sem Batman levou todos os beneficiados a cair dramaticamente nas pesquisas.
Napoleão Bonaparte, militar de verdade, preparado, à frente de seu tempo, foi derrotado no fim. Qual será o destino final do Napoleão de Hospício?
Bateu...
O presidente Bolsonaro brigou feio com o vice Mourão, desautorizou as propostas de desapropriar terras na Amazônia que venham sendo exploradas irregularmente – com garimpos clandestinos, derrubadas ilegais, queimadas que colocam a floresta em risco – disse que a propriedade privada é sagrada e que, em seu Governo, quem fizer propostas do tipo será demitido, a menos que seja indemissível.
É o caso específico de Mourão, que foi eleito junto com ele e é encarregado da proteção amazônica (aliás, ele não disse indemissível: disse “indemitível”). Mandou o deputado Marco Feliciano chamar Mourão de “conspirador” – por ter dito, na Rádio Gaúcha, que cada vez é mais difícil contestar a vitória de Joe Biden nos EUA.
...levou
Na mesma entrevista, Mourão, pela primeira vez, admitiu ser candidato à Presidência em 2022 – e, considerando-se o quadro, contra Bolsonaro. É a reação do general que foi destratado algumas vezes pelo presidente e que não é um Pazuello, que é desautorizado e se cala. Mourão pode rachar o apoio a Bolsonaro nos setores de direita (ninguém poderá dizer que ele é de esquerda) e nas Forças Armadas.
Terá votos? Se não tiver votos suficientes para se eleger, poderá tirar votos de Bolsonaro, prejudicando sua tentativa de reeleição. Mas prometeu só decidir “na hora certa”. É um candidato que incomoda e, se der certo, pode sacudir as estruturas bolsonaristas.
Lothar sem Mandrake
Bolsonaro, sobre a possibilidade de que o novo presidente americano imponha sanções ao Brasil, se for mantida a política anti-ambiental até hoje praticada, ameaçou: no momento em que acaba a saliva das conversações, é a hora da pólvora. No Brasil, todos se divertiram (é capaz até de Queiroz e Wasseff terem dado risada quando ninguém estava olhando). Nos Estados Unidos, ameaçados pela pólvora bolsonarista, não houve qualquer reação. Ninguém sequer percebeu o que o nosso Lothar, agora sem a proteção do mestre Mandrake, surrado em seu reduto nos EUA, andou falando sobre eles.
Quem paga?
O deputado estadual Daniel José (Novo – São Paulo) pesquisou os números: dos 5.570 municípios brasileiros, 1.856 não têm receita suficiente para pagar nem o salário do prefeito e dos vereadores. São 33% do total de municípios do país, que precisam de repasses estaduais e federais (do seu, do meu, do nosso dinheiro) para pagar os administradores e para todas as despesas que se fizerem necessárias – funcionalismo, saúde, educação, manutenção de ruas e placas, limpeza, tudo por conta dos outros. Não, por favor não pergunte se nesses municípios algum vereador, ou talvez prefeito, desistiu de receber seus salários por falta de caixa no município. A resposta certamente o deixará, caro leitor, ainda mais triste com nosso país.
Posto Ipiranga, vulgo Promessão
O ministro da Economia, Paulo Guedes, aquele que iria reduzir o déficit público a zero já no primeiro ano de Governo, 2019, e arrecadar logo de cara algo como R$ 1 trilhão em privatizações, se declarou frustrado por não ter conseguido privatizar nenhuma estatal em dois anos de trabalho. Mas insiste nas promessas, só mudando os prazos: agora, promete vender quatro estatais até o fim de 2021. As quatro são os Correios, o Porto de Santos, a Eletrobrás e a PPSA, que administra a partilha do petróleo.
Que se faça justiça: Paulo Guedes pode não cumprir nenhuma delas, mas mantém suas promessas.
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