Notícias excelentes, enfim, sobre a guerra contra o coronavírus: a Pfizer, a Moderna e a AstraZeneca informam que suas vacinas têm capacidade de imunizar até mais de 90% dos vacinados; o Sinovac, laboratório chinês que desenvolveu a Coronavac com o Instituto Butantan, divulga a capacidade de imunização de sua vacina nos próximos dias. A Rússia, que informa já ter desenvolvido sua vacina, promete publicar os resultados e surpreender o mundo, com mais de 95% de eficiência e metade do preço. E o Brasil?
Bem, deitado em berço esplêndido. Tirando a Coronavac, que já começa a desembarcar em São Paulo, à espera de aprovação, não se sabe bem o que fazer com as vacinas que o Brasil negocia. São pelo menos 400 milhões de vacinas, das quais 76 milhões já acertadas. As do Sinovac e da AstraZeneca, tradicionais, devem ser mantidas em geladeira. As da Pfizer e da Moderna, de outro tipo (em vez de vírus atenuado ou desativado, usam RNA, que envia mensagens de RNA, ácido ribonucleico, aos sistemas de imunidade dos vacinados), exigem temperaturas bem mais baixas. Em dezembro, deve haver boa quantidade de vacinas no Brasil. Onde ficarão? Há geladeiras nos pontos de armazenamento? Qual a política de vacinação: primeiro os grupos de risco, mais ameaçados, ou pessoas mais jovens, para facilitar a retomada da economia? Geograficamente, como deve ser feita a distribuição?
Vacina tem de ser aplicada. Sem infraestrutura, nem vacina resolve.
Hora de acelerar
Está na hora de correr para resolver esses problemas. A Pfizer já pediu à FDA (Administração de Medicamentos e Alimentos) americana autorização para uso imediato da vacina, considerando-se a situação de emergência em saúde. O pedido à Anvisa brasileira virá em seguida. A Sinovac e o Butantan farão o mesmo pedido à Anvisa (fora os pedidos internacionais). A vacina inglesa da AstraZeneca, em cooperação com o Imperial College, seguirá o mesmo caminho. O Brasil comprou 30 milhões de vacinas AstraZeneca e o Governo paulista fechou com 46 milhões da Sinovac. Em dezembro, meio milhão de vacinas deverá estar no Brasil. Temos pressa não só para combater a pandemia, mas também para guardar e distribuir as vacinas como se deve.
Os testes, abandonados
Quando o general Pazuello foi nomeado ministro da Saúde, informou-se que era especialista em Logística – o que é essencial no combate à pandemia. Mas há hoje no Brasil mais testes de Covid, armazenados e com a validade no final, do que os que foram aplicados até agora. São 6,8 milhões de testes comprados pelo Ministério da Saúde e armazenados em Guarulhos, com a validade entre dezembro e janeiro.
Não é por falta de aviso: em junho, cinco meses atrás, O Antagonista disse que havia 5,6 milhões de testes esquecidos em Guarulhos. Ficaram por lá. Mesmo que sejam retirados, como aplicá-los? Cadê a Logística em que o general da Saúde é tão especialista?
Comparando os números
Há 7,1 milhões de testes em Guarulhos. São do tipo RT-PCR, do bom, que identifica se a pessoa tem Covid. Destes, 6,8 milhões são os que estão no fim da validade. Comparando: até hoje, o SUS aplicou cinco milhões de testes. Só com o material já comprado e abandonado, o SUS mais do que dobraria este número. Os testes que estão vencendo custaram R$ 290 milhões.
Que diz o presidente Bolsonaro? Que foi tudo “enviado para Estados e Municípios, e se alguém não o usou deve apresentar seus motivos”. Imaginemos que Bolsonaro tenha razão. Mas, sabendo desde junho que o material estava largado, não teve a ideia de tomar alguma providência?
Black Friday
O Supremo Tribunal Federal deve analisar a rachadinha nesta sexta. Que é crime, é; mas qual sua gravidade? O caso envolve a ação penal em que o deputado Silas Câmara, do Amazonas, é acusado de peculato. É um caso parecido com o do senador Flávio Bolsonaro, e esta análise influenciará o julgamento de seu caso. Mais um problema para incomodar o Planalto.
Tem jeito não
O deputado Arthur Lira, do PP e do Centrão, candidato à Presidência da Câmara, perdeu ontem uma batalha importante: o Supremo aceitou denúncia contra ele por recebimento de propina. Para padrões brasileiros, nem é tanto assim: pouco mais de R$ 100 mil. Seu adversário na disputa da Câmara não está definido: poderia ser Baleia Rossi, do MDB, mas o PT e assemelhados não o aceitam, por achar que foi um dos líderes do impeachment de Dilma. Boa parte da Câmara está convencida de que Rodrigo Maia, se achar uma brecha, será candidato, embora violando a Constituição, que proíbe nova reeleição.
Beleza: um viola a Constituição, outro responde por corrupção.
Ói elaí tra veiz
Cuidado: a inflação está tentando botar novamente a cabeça de fora. E o maior vilão é o preço dos alimentos – justo o que derruba candidatos.
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