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Diário Grande ABC

Siga o cheiro do dinheiro. Coluna Carlos Brickmann

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 03 DE MARÇO DE 2021

02.03.2021  |  209 visualizações

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O senador Flávio Bolsonaro, na declaração de bens à Justiça Eleitoral, em 2018, informou ter patrimônio de R$ 1,7 milhões. De janeiro de 2019 para cá, recebe salário líquido de R$ 25 mil mensais. Se não gastasse um centavo do salário, teria juntado R$ 600 mil, mais os juros minúsculos que os bancos pagam. E acaba de comprar uma casa por R$ 5,97 milhões, dos quais R$ 3,1 financiados pelo Banco de Brasília. Os restantes R$ 2.870.000 saem de seu patrimônio. A conta não bate: R$ 1,7 milhão mais R$ 600 mil somam R$ 2,3 milhões. Isso, em princípio, não quer dizer nada: sua esposa, que assinou com ele os documentos, pode ter completado a quantia. Pode ter havido até mesmo um paitrocínio, que no caso, com certeza, o presidente comprovará.

Mas não é só isso: as prestações mensais do imóvel saem por algo como R$ 18 mil mensais – quase 70% de seu salário líquido. E, claro, há os móveis. Uma casa de 1.100 m² de área construída pede boa quantidade de móveis. Uma casa deste tamanho num terreno de 2.500 m² exige empregados, tem altas contas de luz e água, tudo tendo de caber nos R$ 7 mil que sobram ao senador após pagar a prestação do banco. Mas, como disse outro presidente, seu filho era “o Ronaldinho dos negócios”. A história pode se repetir, não é?

Importante: o preço é este mesmo, segundo levantamento feito por gente do ramo, Em São Paulo, o imóvel poderia chegar a R$ 50 milhões, conforme o bairro; em Brasília, no local da casa, R$ 6 milhões é preço normal.

 O silêncio é de ouro

Flávio Bolsonaro disse que, para comprar o imóvel em Brasília, vendeu uma franquia e um imóvel que tinha no Rio. Perfeito, porém a franquia e o imóvel já estavam incluídos no patrimônio declarado à Justiça Eleitoral. Mas nada de conclusões precipitadas: o Coaf (como é que se chama agora?) sabe das coisas. Se a Receita Federal investigar, terá todas as respostas.

O mistério do chilique

Lembremos: quando soube que a Petrobras tinha elevado pela quarta vez no ano os preços da gasolina e do diesel, Bolsonaro se exaltou e disse que iria mexer na Petrobras. Bobagem: em 20 dias o mandato do presidente da empresa iria terminar e bastaria indicar outro. E, como a Petrobras é cotada em Bolsa (no Brasil e em Nova York), as mudanças que possam interferir no preço das ações devem ser comunicadas após o fechamento das Bolsas.

Se o chilique era desnecessário, se daria prejuízos à empresa (o ministro Paulo Guedes, que disputa com o general Pazuello quem muda de opinião mais depressa para agradar o chefe, calcula que a Petrobras perdeu mais de R$ 70 bilhões em valor de mercado, fora ter desestimulado investidores que podiam vir ao Brasil); se os preços que tanto irritaram Sua Excelência não só não caíram como subiram mais uma vez, por que o ataque de nervos?

 Petrobras, cobrando e andando

O comando do presidente e do nutrido corpo de generais que o cerca não chega a ser levado a sério na Petrobras: anteontem, gasolina e diesel subiram de novo. Neste ano, a gasolina subiu 42%, o diesel 34%. Bolsonaro zerou os impostos sobre diesel e gás de cozinha. Espera acalmar os caminhoneiros? Pode ser que esteja torcendo por isso. Só que, se diesel barato os agrada, eles sabem que o problema não é esse: o problema é excesso de caminhões para uma quantidade insuficiente de carga. Os caminhoneiros não estão felizes: até líderes que apoiaram Bolsonaro até há pouco tempo já falam em greve. E, se continuar a política de prometer aquilo que não será dado, greve haverá.

 Farinha pouca...

Pois é, o Centrão apoia Bolsonaro. E, a cada vez que Bolsonaro se dirige a um parlamentar chamando-o de “caríssimo amigo”, está falando a verdade. Mas o apoio dos caríssimos integrantes da base governamental não significa que votem cada projeto como o Governo quer: aí são outros quinhentos. Suas Excelências querem agora aumentar o valor das emendas parlamentares de R$ 16 bilhões para R$ 18 bilhões. Os parlamentares as usam em benefício de sua zona eleitoral. Podem até ser úteis; mas de onde tirar dinheiro, quando a Covid exige despesas e atrapalha as atividades que geram impostos?

 ...meu pirão primeiro

Agora, os procuradores - aqueles que eram conhecidos nos bons tempos como “jovens e bravos procuradores”, cujo trabalho, apesar de muitas vezes discutível em termos de justiça, ajudou a criar obstáculos à ação de corruptos e a recuperar dinheiro que tinha sido roubado. Pois os procuradores não se conformam de não ter recebido os celulares mais caros do mercado. Os seus não são os mais caros, mas são da mesma marca, lançados ao mesmo tempo, sem o luxo (e o preço) que caracteriza os topos de linha. Classificaram os celulares novos como “esmola”, segundo as reclamações que fizeram.

Os promotores ganham até R$ 100 mil mensais, têm notebook e tablet, mas acham pouco. Ganham o mesmo que é pago por ricas cidades dos EUA. Esta coluna tem uma lista de salários americanos. Que tal no domingo?

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