Menos de dois anos antes das eleições, o senador Fernando Henrique pensava em desistir da política e voltar à Universidade. Achava que não se elegeria nem deputado federal. Mas se elegeu presidente, vencendo Lula no primeiro turno. Reelegeu-se, sendo vitorioso de novo no primeiro turno.
Dizia o senador mineiro Magalhães Pinto que política é como nuvem: muda a cada instante. É cedo para apontar os favoritos de 2022. Mas é possível ver o que anda fazendo cada um. Não é apoio nem crítica: é um balanço eleitoral de virtudes e defeitos, que podem influenciar na campanha.
Comecemos pelo azarão: Sergio Moro. Acaba de ser surrado no Supremo, acusado de parcialidade nos julgamentos de Lula. Politicamente, Moro já fez três bobagens: foi trabalhar com Bolsonaro, perdendo a imagem de juiz sem partido; demitiu-se atirando, mas sem acertar um tiro mortal; foi trabalhar numa empresa que defende a Odebrecht, que ele tanto atacou. Tudo bem, é funcionário de outra área, mas explique isso ao eleitor. Porém, é possível que as derrotas no STF o acabem transformando em vítima. Muita gente que gosta dele quer saber se, de repente, até quem devolveu dinheiro deixou de ser culpado. Imagine se parte dos recursos de Lula bloqueados pela Justiça for devolvida, já que os processos foram anulados. Moro pode crescer, sim.
Agora, vejamos três outros candidatos: Bolsonaro, Lula e, digamos, João Doria (mais provável que Huck ou Mandetta). Qual o caminho de cada um?
Bolsonaro sim
O presidente está a pão e água, perdendo intenções de voto, perdendo o apoio de setores do empresariado, insistindo em criar um país paralelo onde só ele tem razão, mesmo contrariando frontalmente os fatos que todos veem. Mas não esqueça de que, em algum momento, volta a ser pago o auxílio de emergência. Não importa quem proponha o auxílio, nem de quanto seja: vai entrar como um benefício concedido por Bolsonaro.
Tem mais: é possível que, em determinado momento, apareçam vacinas suficientes para melhorar o ritmo da imunização. Não importa que ele tenha sabotado a vacinação, nem que tenha tentado entuchar a população com cloroquina, como se todos os cidadãos tivessem maleita: daqui a quase dois anos já teremos muita gente vacinada. Isso entra na conta como obra de Bolsonaro. E rende votos a ele.
Bolsonaro não
O grande inimigo de Bolsonaro não é a incapacidade gerencial, nem a incapacidade de liderar, nem a capacidade de opinar sobre qualquer assunto como se soubesse do que fala. O grande inimigo de Bolsonaro são seus amigos. A ala ideológica que segue Olavo de Carvalho e manda nas Relações Exteriores, Saúde, Meio Ambiente, que não teme tentar desmoralizar generais, atrapalha. Deixou o Brasil mal com a política ambiental, com a tentativa de dar palpite nas eleições americanas, com ataques à China. E já irritou o Centrão: o Centrão faz acordos, cumpre os acordos, mas não pula em piscina seca. O Centrão estava com Dilma, mas foi um expoente do bloco, Eduardo Cunha, que aceitou o pedido de impeachment.
O Centrão não tem voto para eleger presidente, mas pode paralisar qualquer governo.
Lula
Este nunca deve ser subestimado. É simpático, flexível. Desde os tempos de assembleias sindicais, nunca foi direto para o palco: entrava pela plateia, conversando, e chegava ao palco sabendo o pulso do seu público. Não hesita em mudar de ideia para ganhar uma eleição: é uma metamorfose ambulante, como disse. Embora os processos em que foi condenado tenham sido anulados, há neles fatos de arrepiar. Reputação de desonestidade tira voto? Não, não tira. Lembre-se dos grandes corruptos, há anos denunciados: qual deles perdeu as eleições seguintes? E há ainda a prisão: Lula se dá muito bem no papel de vítima, que desempenha com perfeição. É candidato forte.
Doria
Seu trabalho na pandemia é bom e bem reconhecido. Até hoje as vacinas aqui aplicadas são, na maioria, do Butantan. Agora o Butantan testa também uma vacina 100% brasileira. Se der certo, é bom para sua candidatura. Mas é bom também para Bolsonaro, porque mais gente vacinada tira o foco de sua desastrosa gestão da pandemia. O maior problema de Doria é ampliar presença fora de São Paulo (e, antes disso, convencer o PSDB de que é o melhor candidato). E sua candidatura não chegou a decolar nas pesquisas.
Veta, governador
O deputado estadual paulista Rodrigo Soares, do PSC, tem trabalhado bem, especialmente na área de busca de doações para filantropia. Mas, agora, na luta para garantir a transparência das doações, corre o risco de deixá-las inviáveis. Seu projeto, que espera sanção ou veto do governador João Doria, exige tantas firulas para que as doações continuem sendo feitas na conta de luz, gera tal quantidade de códigos de barras, que a confusão será inevitável.
O Sindicato da Indústria de Energia pede que o projeto seja vetado.