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Diário Grande ABC

A escravidão (de 2021) chega ao fim. Coluna Carlos Brickmann

EDIÇÃO DOS JORNAIS DE QUARTA-FEIRA, 26 DE MAIO DE 2021

25.05.2021  |  226 visualizações

Impostos

 

A todos os caros leitores, parabéns! A todos os cidadãos, parabéns! Neste sábado, dia 29, acaba seu período obrigatório de trabalhar só para encher os cofres do Governo (todos os governos: municipal, estadual, federal). Apenas a partir da semana que vem poderemos trabalhar para nós e nossas famílias. É neste sábado que se encerra o período de escravidão, 149 dias em que tudo o que produzimos se destina exclusivamente ao pagamento de tributos.

O cálculo é sério, de uma entidade respeitada, o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação. Está no Estudo sobre os dias trabalhados para pagar tributos. Mais um detalhezinho? Este estudo é realizado anualmente desde 2006 – na época, trabalhávamos um pouco menos para sustentar os lá de cima, 145 dias. Ah, sim: ontem, 25, foi o Dia Nacional do Contribuinte. Imaginemos Suas Excelências, cercados de seguranças, olhos cobiçosos de desejo, salivando e esfregando as mãos: “Contribuinte... hoje é o seu dia”.

Há outros países em que os impostos são altos. Na Suécia, por exemplo, há poucos médicos particulares: o serviço de saúde pública os torna quase desnecessários. O cidadão é cuidado “do berço ao túmulo”. Nos EUA, em escolas públicas, há alunos normais e alguns que se destacam. Estes, os gifters, vão para uma classe especial, onde o ensino é mais puxado. Se um aluno se destaca muito, o Governo o coloca numa escola para superdotados. Em Portugal, o seguro-saúde custa € 4,50 ao mês.

Brasil acima de todos!

 Gasta-se muito, gasta-se mal

Há poucos dias, Fernando Schuler, diretor do Insper, contou uma visita à Suécia. Perguntou a uma deputada quantos assessores cada deputado tinha. Ela respondeu: um. Mas a assessoria é coletiva.

 No Brasil, deputado federal tem 25 assessores. No Senado, mais de 50. Há as consultorias legislativas e os 28 mil funcionários do Congresso. É o segundo parlamento mais caro do mundo. A Justiça também é cara: custa 1,8% do PIB, contra 0,33% da média europeia. Claro: onde mais haverá funcionários para puxar a cadeira de Suas Excelências, e mais garçons do que ministros ou desembargadores? E 13% do PIB são gastos com servidores públicos, mais do que se gasta na Alemanha e na Suécia, onde há muito mais serviços estatais à população.

 Os números por inteiro

Quer o retrato completo de como os lá de cima desperdiçam seu dinheiro? Está em https://go.shr.lc/34eEgIn, por Alexandre Schwartsman.

 Palácios, lagostas...

Angela Merkel, a política mais importante da Europa, mora no mesmo local em que vivia antes de chegar ao poder na Alemanha, um dos países mais ricos do mundo. Já foi vista por um jornalista brasileiro no Feinkost, um supermercado, comprando queijo, presunto, pó de café, algumas frutas: típica compra de lanche noturno. Sem pompa nenhuma. Não tem empregada em casa.

No Brasil, o presidente da República trabalha num palácio, mora em outro, tem um palácio no Rio; o governador de São Paulo mora e trabalha no mesmo palácio, mas tem outro no Horto Florestal, onde a temperatura no verão é mais amena. Cada desembargador tem carro oficial e motoristas. Na Justiça americana, só o presidente da Corte Suprema tem carro oficial. E os ministros da Corte não têm imóveis públicos para morar. Em Londres, o prefeito recebe de graça um vale-transporte para os transportes públicos. A esposa de um novo primeiro-ministro israelense foi convidada para visitar a Embaixada americana, aceitou e perguntou qual ônibus passava por lá.

Lagosta, picanha de R$ 1.800,00 o quilo, com o churrasqueiro viajando dois mil quilômetros para prepará-la... ok, alguns dirigentes de outros países devem se dar a esses luxos. Mas pagam suas contas com seu dinheiro. Na Casa Branca, o presidente come de graça em recepções oficiais. No dia a dia, recebe a conta de suas refeições e de sua família. País pobre é pão-duro.

 Águas passadas

O presidente Bolsonaro é muito jovem para ter visto o que é volubilidade. No dia 23 de agosto de 1954, multidões se manifestavam no Rio pedindo a deposição do presidente Getúlio Vargas. Vargas se suicidou e multidões se manifestaram no Rio querendo linchar seus adversários políticos.

Em 13 de março de 1964, diante de uma multidão imensa, o presidente João Goulart comandou o Comício das Reformas. Assinou decretos em meio a aplausos, fez o que queria. Confiava em seu “dispositivo militar”: o general Jair Dantas Ribeiro, ministro da Guerra, o general Assis Brasil, chefe da Casa Militar, os comandantes dos quatro Exércitos (um deles seu velho amigo, o general Amaury Kruel), dezenas de generais (os “generais do povo”) que se alojavam nas estatais, almirantes, brigadeiros, milicianos (os Grupos dos 11, de Leonel Brizola, as Ligas Camponesas, de Francisco Julião). Em 25 de março, cabos e sargentos se rebelaram contra seus comandantes, com o apoio discreto do presidente Goulart.

Em 31 de março, sem qualquer resistência, Goulart estava deposto – inclusive por seu amigo Amaury Kruel.

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