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De Tim Maia: “Não fumo, não bebo e não cheiro. Só minto um pouco”.
Pois é. Bolsonaro chamava a CoronaVac de “vachina”, e há poucos dias disse que havia algo errado com ela. Enquanto isso, seu ministro da Saúde, general da ativa Eduardo Pazuello, negociava a compra da CoronaVac não do Butantan, nem pelo preço de dez dólares a dose: queria obtê-la de intermediários, a US$ 30 a dose – o triplo do preço. A promessa de compra, em 11 de março, está gravada em vídeo, já em poder da CPI. No vídeo aparece também Elcio Franco, aquele coronel da reserva que anda com distintivo de facão cravado numa caveira, seu secretário executivo no Ministério da Saúde. Diz Pazuello, no vídeo: “Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento assinado e com o compromisso do ministério de celebrar, logo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender nossa população”.
Também no período de Pazuello ministro, as ofertas de vacinas da Pfizer e da Janssen não foram sequer respondidas. Mas uma empresa que jamais trabalhou com vacinas foi recebida com propostas de compra de 400 milhões de doses de um produto indiano, 50% mais caro que os CoronaVac e Pfizer. Um servidor público foi pressionado para aprovar um negócio que considerou errado, e à visita do irmão do servidor, deputado federal bolsonarista, a Bolsonaro - o que acabou levando o caso à CPI.
Recordar é preciso
Lembrai-vos de um gênio brasileiro, Millôr Fernandes: “Jamais diga uma mentira que não possa provar”.
Tira o rei Congo do congado
Há coisas tipicamente brasileiras. A Janssen, multinacional anglo-sueca ligada à Johnson&Johnson, que nas vacinas trabalhou com o Imperial College de Oxford, e a Pfizer, uma das maiores indústrias farmacêuticas do mundo, não tinham o acesso ao Governo brasileiro de que dispunha uma pequena empresa americana de intermediação.
E quem eram os competentes agentes dos americanos? Um pastor evangélico e um cabo. No futuro, narrar essa história exigirá provas, documentos, ou ninguém vai acreditar nela.
Limpando os cofres
E no Congresso, enquanto tantos parlamentares protestam corretamente contra a tentativa de pagar preços escandalosamente altos por vacinas sem tradição no mercado, fazem passar boiadas inteiras: a já escandalosa tese de fazer com que todos paguem as campanhas eleitorais das Excelências está custando alguns bilhões a mais. A verba luxuosa, de R$ 2 bilhões, cresceu de uma hora para outra para R$ 5,7 bilhões. Briga-se pelo valor pequenino do auxílio de emergência, porque não é possível chegar a R$ 300 mensais a ajuda a quem tem de sustentar a família, mas triplicar o desperdício de verba de campanha, isso não merece nem discussão.
Pior é a falta de vergonha: muitos parlamentares que votaram a favor do escândalo dizem que eram contra, mas votaram a favor porque era preciso ter logo a nova Lei de Diretrizes Orçamentárias. É mentira: se quisessem, era só votar contra. E, como a bandalheira nunca vem só, a existência da grana fácil estimula os espertalhões a abrir novos partidos, mergulhando na verba pública abundante e gastando à vontade. Com tantos partidos, nenhum Governo chega a montar uma base de apoio: tem de alugar esse apoio, caso a caso, o que aumenta os gastos públicos. Aí é só aumentar impostos.
A ideologia e a fé
O país estimula tanto a criação de novos partidos, dando-lhes dinheiro à vontade (veja o motivo real de brigas como a do PSL com os Bolsonaros) quanto a de novas igrejas, dando-lhes isenção de impostos. Abrir uma igreja exige pouco mais do que imaginação para escolher seus nomes. Como não há diferença entre o que propõem um partido ou outro, não há como achar com facilidade as divergências que levam cada líder a abrir sua própria igreja. O jornalista Helio Schwartsman abriu uma, para mostrar o processo numa reportagem. Foi rápido, fácil e barato: em pouco tempo o repórter era o chefão da Igreja Heliocêntrica, com direito a isenção de impostos para ele e a família. Hélio Schwartsman abriu a igreja, fez a reportagem e fechou-a.
Ou bastaria nomear esposa e filhos para cargos na sua igreja e nenhum mais teria aborrecimentos pagando impostos na vida.
A agroindústria como deve ser
O CEO do AgroReset, Finho Levy, iniciou nesta semana uma série de entrevistas virtuais com formadores de opinião sobre bioeconomia e o agro sustentável. Diálogos AgroReset estreou entrevistando Fábio Feldmann. Depois entrevistou Celso Luiz Moretti, presidente da Embrapa. Outros estão sendo gravados. A série pretende mostrar o agro como setor vital para colocar o Brasil na liderança da agenda global do desenvolvimento sustentável. As entrevistas estão no site https://agroreset.com.br/