O presidente Bolsonaro é candidato à reeleição. Mas, faltando trezentos e poucos dias para a eleição, não tem partido. Faltam cinco meses para o prazo final de filiação – e, embora leve votos ao partido a que se filiar, isso não fica de graça, não. O presidente saiu do PSL porque Luciano Bivar, o cacique do partido, lhe negou o controle do Fundo Partidário e das milionárias verbas de campanha. Tentou formar um partido e fracassou.
Há profissionais nessa área, mas não são baratos – e hoje não há mais tempo. Tentou o PL, achando que Valdemar Costa Neto seria flexível. E é – mas quem manda no partido e em seus cofres é ele. Bolsonaro queria que seu filho Eduardo “Bananinha”, assim apelidado pelo vice Hamilton Mourão, tivesse o controle de São Paulo. Brigaram aos palavrões (o que não quer dizer que um acordo seja impossível. É possível, mas vai custar mais caro). Há outros partidos, mas em todos há problemas: fortes alas antibolsonaristas ou bons candidatos que não querem bolsonaristas por perto. Sem partido, Bolsonaro fica fora do jogo.
Lula, hoje seu maior adversário, conversou com Alckmin para vice. Difícil: Alckmin é candidato forte ao Governo paulista e quer se vingar de Doria, derrotando seu candidato. Deve entrar no PSD, e Gilberto Kassab não parece disposto a apoiar Bolsonaro. Chapa com dois paulistas (Lula nasceu no Nordeste, mas politicamente é de São Paulo) fica difícil. Lula prefere um empresário de vice. Já deu certo uma vez. Por que não repetir a fórmula?
Jogo sério
Gilberto Kassab não brinca: é hábil, raciocina friamente, sabe para onde sopram os ventos. Ele vê os sinais de fraqueza de Bolsonaro: ser rejeitado por Valdemar Costa Neto é um deles. Outro é ver o presidente ser atacado por um de seus partidários mais obedientes, o ex-chanceler Ernesto Araújo (aquele que se orgulhava, como Bolsonaro, do isolamento internacional do Brasil).
Pior ainda, Araújo é seguidor, como os filhos 02 e 03 do presidente, do escritor Olavo de Carvalho, o pai do “bolsonarismo ideológico”. Araújo ousou criticar o Mito: rejeitou a aproximação entre Bolsonaro e o Centrão. “Surgiu aquela coisa, ‘precisamos fazer do Centrão a base do Governo’. O que a gente viu é que o Governo virou a base do Centrão”. Se até Araújo o critica, imagine os que não são tão fiéis! Kassab está fora. E, se ele acha que é possível levar Rodrigo Pacheco ao segundo turno, é bom prestar atenção.
O famoso “quem”?
Tarcísio de Freitas, que foi alto funcionário do Governo Dilma e é hoje o ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, pensa em ser candidato a algo em São Paulo – senador ou governador. OK, não tem partido, não mora em São Paulo e precisará aprender onde fica a avenida Paulista, mas sonha com isso. Em Dubai, onde está com o presidente, falou como candidato: garantiu que o Brasil investirá R$ 1 trilhão em infraestrutura até 2022, transformando-se num país moderno, eficiente e rico. Talvez não tenha se lembrado de que o ministro Paulo Guedes tinha prometido arrecadar R$ 1 trilhão no primeiro ano do Governo, só com as privatizações. Mas lembrou o título de um livro histórico do escritor austríaco Stefan Zweig, Brasil, País do Futuro, e disse que “nós teremos aquilo que merecemos ser: o país do futuro”.
Poucos meses depois de publicar o livro, Stefan Zweig se suicidou.
Amaciando arestas
As prévias para escolher o candidato do PSDB à Presidência provocaram choques entre os três candidatos, Arthur Virgílio, Eduardo Leite e João Doria. Mas, ainda antes da escolha, os principais candidatos, Leite e Doria, já buscam acertar suas diferenças. Trocaram bilhetes amistosos, marcaram conversas, buscando basicamente evitar que o candidato derrotado apoie um adversário ou simplesmente cruze os braços e se esqueça de participar da campanha. Uma ou outra rachadura existirá no partido (por exemplo, Aécio Neves não fará campanha por Doria, que por sua vez insiste em expulsá-lo do PSDB). Mas os dois principais candidatos tentam mesmo a união.
O voto do patrono
O ex-presidente Fernando Henrique se cadastrou ontem no aplicativo do PSDB para as prévias – era o último dia do prazo. E poderá votar nas prévias, no domingo. Fernando Henrique já declarou que vai votar em João Doria.
Metade do dobro
No dia 26 de novembro ocorre a maior liquidação do país, a Black Friday. Pelo menos é o que dizem. Mas os anúncios consultados por este colunista não autorizam esta previsão. Na última coluna, já citei um produto cujo preço é de R$ 64 e cai para R$ 62. A respeitada revista econômica InfoMoney publicou, sob o título “‘Black Fraude’ – Pouco antes da Black Friday, preços de produtos sobem até 70%, indica Ibevar” (Ibevar é o Instituto Brasileiro de Estudos do Varejo).
Informa a CNN: “Foi Black Fraude? Cerca de 35% das promoções da data não teve desconto real”.
Cuidado! E boas compras!