Três frases sintetizam as dificuldades de apurar notícias sobre as guerras: “Em tempo de guerra, mentira como terra”. “Na guerra, a primeira vítima é a verdade”. “Quem fala não sabe, quem sabe não fala”.
É possível buscar a verdade, embora jamais se tenha a certeza de que a verdade é verdadeira. Então, vamos em frente: há sinais de que a guerra entre Rússia e Ucrânia deve parar em poucos dias, com um acordo de trégua. Daí em diante, caberá a Putin e Zelensky discutir os termos do acordo de paz.
O principal interlocutor de ambos os lados é, surpreendentemente, Naftali Bennet, o primeiro-ministro de Israel. É um país pequeno, a quase 2 mil km da área de guerra, mas reúne algumas características únicas. Há uma longa história judaica tanto na Ucrânia quanto na Rússia, algo como 10% do povo israelense falam russo, Bennet tem bom contato tanto com Zelensky como com Putin e ambos sabem que Israel é pequeno demais para prejudicar um ou outro. Bennet mantém a rígida neutralidade do país (não discordou das sanções, por exemplo, mas não as aplicou) e trabalha pela trégua o tempo todo. Ele sabe que um triunfo internacional o reforçará dentro de Israel.
Bennet diz, e deve ser verdade, que não propôs nada: é mensageiro entre os inimigos, nada mais do que isso. Tem forte apoio diplomático alemão. E Putin, normalmente desconfiado, já se acostumou a trabalhar com Israel na Síria: os israelenses combinam com os russos cada ataque a bases iranianas.
A troca
Israel nada tem a favor do regime sírio. Também nada tinha a favor dos inimigos do presidente Assad. Prometeu aos russos, e cumpriu, que não se envolveria na Síria. Os russos prometeram a Israel, e cumpriram, que a Síria não atacaria Israel. E trabalham juntos para evitar incidentes quando Israel ataca forças iranianas na Síria – o que Moscou, aliás, vê com bons olhos.
O palpite
Uma saída possível: a Ucrânia desiste da OTAN e aceita a neutralidade. Zelensky continua no poder. As regiões que se proclamaram independentes, com apoio russo, ficam como zonas neutras. A OTAN retira as sanções.
Chuchu-cialista
Para quem acha que já viu tudo: o ex-governador de São Paulo, Geraldo “Picolé de Chuchu” Alckmin, desce do muro e entra no PSB. É a maior conquista do socialismo desde que Paulo Skaf, então presidente da Fiesp, se inscreveu no PSB (saiu rápido: deve ter-se cansado de explicar sua opção a aliados e eleitores e descobrir que a achavam engraçada). Mas é maldade chamar Alckmin de Chuchu Vermelho. Vermelho é cor de comunista. Socialista, desde o francês Mitterrand, prefere o rosa. Chuchu Rosê, então.
Chefe Burro Sentado
Repetindo o texto, para quem acha que já viu tudo: o ministro da Justiça, Anderson Torres, concedeu a Medalha do Mérito Indigenista a Bolsonaro. É falso que a medalha homenageie o General Custer, americano que em 25 de junho de 1876 atacou os índios comandados pelos caciques Touro Sentado e Cavalo Louco, em Little Bighorn, sendo morto e levando todos os seus soldados à morte.
Já a frase de Bolsonaro sobre lutas entre militares e índios é verdadeira, e foi dita em abril de 1998, em discurso na Câmara dos Deputados:
“A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país”.
Criança feliz
Só falta agora criar uma Medalha do Mérito Infantilista que homenageie Herodes (e seja concedida ao presidente por algum ministro sem noção).
Imitando Zé Carioca
Não adianta brigar: quem ligou o empresário Luciano Hang, da Havan, ao personagem Zé Carioca, que também só se veste de verde e amarelo, foi o polemista Olavo de Carvalho, recentemente falecido. Luciano Hang viajou a Curitiba para inaugurar uma loja de sua rede e reclamou da instalação de radares de monitoramento de trânsito.
Claro: os radares mostram quem é irresponsável e estoura o limite de velocidade, quem põe os pedestres em risco – em resumo, salva vidas (e, afinal de contas, como diz o guru de Hang, todos morremos).
Na opinião de Hang, radar só serve para multar. Diz ele que ninguém instala radares por questão de segurança, mas para aumentar a receita de multas – esquecido de que só é multado quem põe em risco a segurança dos outros. Um detalhe: pode-se dizer que, ao abrir uma nova loja, Hang não pensa em garantir o abastecimento, mas em aumentar os lucros de sua empresa.
O empresário fantasiado de Zé Carioca vai mais longe. Diz que nos Estados Unidos não se usa radar de monitoramento de trânsito. Mas se usa, sim: tente ultrapassar o limite de velocidade numa rodovia e, de repente, alertado pelo radar, surge um carro de polícia para cuidar do apressado.
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