O presidente Jair Bolsonaro chamou o espetáculo de “evento”. Se usasse o nome correto, “comício”, admitiria estar fora da lei: a mania brasileira de regulamentar tudo, sabe-se lá por que, faz com que a campanha eleitoral só se inicie oficialmente no dia 20 de julho. OK, Bolsonaro está em campanha desde que tomou posse, em janeiro de 2019. Lula talvez esteja em campanha até há mais tempo. Mas é como a censura russa à guerra contra a Ucrânia: é guerra, morre gente, mas tem de ser chamada de “operação especial”, e tudo fica limpinho. Aqui ninguém faz campanha, embora faça: o nome é eventos.
Aliás, não é permitido o lançamento de candidatos antes de 16 de agosto. Claro que até a Estátua da Justiça, mesmo de pedra, mesmo vendada, sabe que Lula, Bolsonaro e Moro são candidatos. Mas basta chamá-los de outro jeito – pré-candidatos – que tudo se resolve. Como disse o ex-ditador Getúlio Vargas, há 75 anos, “a lei, ora a lei”.
Enfim, deixa pra lá. Bolsonaro criticou a corrupção na mesma semana em que se comprovou que dois pastores sem cargo oficial manipulavam verbas da Educação, com a decorrente propina, muitas vezes em barras de ouro, e distribuíam Bíblias a estudantes, ilustradas com fotos dos citados reverendos. Ao lado do presidente, gente famosa: Fernando Collor, aquele que confiscou a poupança, lembra-se? E Valdemar Costa Neto, que teve de renunciar duas vezes ao mandato, por envolvimento no Mensalão e por ter sido condenado e preso. E ainda há Augusto Heleno.
O general-cantor
O general Augusto Heleno tem longa história de participação política. Quando o ministro da Guerra, general Sylvio Frota, tentou o golpe contra o presidente Geisel (a quem considerava comunista), Augusto Heleno, capitão, era seu ajudante de ordens. Quando Bolsonaro negociava com o Congresso a manutenção de vetos presidenciais, Augusto Heleno disse, na presença dos ministros Luís Eduardo Ramos e Paulo Guedes (e de um gravador ligado), que não se deveria ceder às chantagens dos parlamentares. E completou com uma síntese impecável de seu pensamento: “Foda-se!”
Mas o condecorado general sabe ser flexível: após cantar em público “se gritar pega Centrão, não fica um, meu irmão...” posou para fotos no “evento” (lembre-se, não é comício) de Bolsonaro, com três caciques do Centrão: Ciro Nogueira, Arthur Lira e Valdemar Costa Neto. Valdemar é o cacique do partido de Bolsonaro.
Não, mas sim
Augusto Heleno garante que o Centrão nem existe mais. Para quem não existe, manda muito! Parte, reparte e sempre fica com a melhor parte.
O soxialismo do profexô
Há quem estranhe a conversão do tucano Geraldo Alckmin ao socialismo, com a missão específica de mostrar que Lula não é nada daquilo que Geraldo Alckmin dizia quando era tucano. Mas política tem dessas coisas: outro socialista (embora não por muito tempo) foi o então presidente da Fiesp, “o patrão dos patrões”, Paulo Skaf.
Nesses dias, o socialismo ganha um militante que só agora revela sua preferência pela ideologia: o técnico Vanderlei Luxemburgo, que todos os jogadores sob seu comando deveriam chamar de “profexô”, ou seja, professor. Luxemburgo deve ser candidato por Tocantins. Sua preferência é o Senado, mas pode tentar a Câmara.
Eu sou o bom
O governador da Bahia, Rui Costa, do PT, concedeu ao governador da Bahia, Rui Costa, do PT, a Medalha do Mérito da Casa Militar do Governador. A condecoração foi criada pelo governador Rui Costa, do PT, em 15 de setembro de 2020. Mas o governador da Bahia, Rui Costa, do PT, não foi o único agraciado com a comenda criada por ele mesmo: ele também as entregou a companheiros de PT baiano e a auxiliares de seu governo.
Entre os premiados pelo governador petista, estão o cacique maior do PT baiano, senador Jaques Wagner; o candidato do PT ao Governo da Bahia, Jerônimo Rodrigues Souza; um oficial da Polícia Nacional da Colômbia, tenente-coronel John Alexander Becerra Zabala, e auxiliares diretos do governador.
Curiosidade
Note: nenhum baiano que não seja do PT mereceu a condecoração.
Não perguntem
Estranhou a presença de um oficial estrangeiro entre os condecorados? Eu também: até agora jamais imaginaria que houvesse petistas na Colômbia.
Múltipla instância
Diogo Castor de Mattos, que atuou em Curitiba na Operação Lava Jato, foi demitido em outubro de 2021 pelo Conselho Nacional do Ministério Público, CNMP. Mas seu nome está no site do CNMP como “membro ativo”, com recebimento normal de proventos. Em janeiro, seus rendimentos brutos superaram os R$ 50 mil.
Segundo a assessoria do Ministério Público Federal do Paraná, ele só deixa a condição de “membro ativo” após sentença judicial transitada em julgado.