Em política há certas verdades evidentes por si sós, indesmentíveis. Por exemplo, o Congresso é quase um retrato do país. Lá há pessoas honestas, há ladrões, há cultos e incultos, tolerantes e intolerantes, descrentes e crentes, antipáticos, simpáticos. Só não há burros, porque burro não chega lá.
Bolsonaro foi deputado por quase 30 anos – logo, burro não é. Montou um bom esquema para colocar os filhos mais velhos nas diversas casas legislativas, garantindo o futuro de todos. Pode-se dizer dele o que se quiser, grosseiro, inepto, prepotente, demagogo. Mas definitivamente não é burro.
Então vale estudar com cuidado sua iniciativa de demitir o almirante Bento Albuquerque do Ministério de Minas e Energia. Há a evidente pitada de demagogia, de fingir combater a alta de preços dos combustíveis. Mas há também outro fator: o imenso gasoduto do Nordeste, que deve custar R$ 100 bilhões em dinheiro público para beneficiar empresários privados. Destes, o mais visível é Carlos Suarez (que era o S da OAS), dono de oito concessões para distribuição de gás no Nordeste. Mas há muito mais gente a ganhar com a obra – que, hoje, é a grande reivindicação do Centrão. A empresa de Suarez leva o gás pelo Centrãoduto até cada região, onde há empresários que fazem a distribuição a varejo. Há as obras, há de tudo.
Há oportunidades imensas, o que é ótimo – mas só se investe dinheiro público, em princípio da PPSA, a Pré-Sal Petróleo, comandada pelo Ministério de Minas e Energia.
E o almirante?
Bento Albuquerque não quis pagar o gasoduto. Por que os empresários não investem, se irão lucrar? O almirante foi secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação e diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha.
Se é para investir, por que não nos submarinos?
Bolsonaro com Putin
Os investimentos nos submarinos (oito convencionais e um de propulsão nuclear) se liga com a visita de Bolsonaro a Putin, dias antes da invasão da Ucrânia. A ocasião errada levou Bolsonaro a falar bobagem. Mas o objetivo real era obter dos russos algo essencial ao submarino nuclear, e que os EUA nos têm negado: como transformar a energia do reator em propulsão.
Um só submarino de propulsão nuclear multiplica o poderio do país. Podendo ficar submerso por longos períodos, não é detectável, e pode retaliar, com armas convencionais, quem quer que ataque o Brasil. O almirante prefere que o investimento que o Centrão quer no gasoduto seja feito no submarino. No nuclear ou nos convencionais, que também estão sem verbas.
Esperando
O primeiro submarino convencional aqui construído está quase pronto. Já navega e deveria ser entregue no começo do ano. Mas faltaram detalhes (que, aliás, continuam faltando: o principal é o sistema de ancoragem). Faltam verbas. A entrega está prevista, agora, para a segunda quinzena de junho.
Deve ser desagradável para Bolsonaro ter no Ministério um almirante de alta qualificação querendo desenvolver nosso poder naval e atrapalhando os projetos do Centrão de desenvolver seu poder eleitoral. Pense no pessoal do Centrão. Pense agora na festa que fariam com cem bilhões de reais.
Festa e campanha
Lula e Rosângela, Janja, se casam hoje em São Paulo, com festa para 200 pessoas. É casamento, mas faz parte da campanha: como ele mesmo disse no lançamento de sua chapa com Alckmin, “um cara que tem 76 anos e está apaixonado, que está querendo casar, só pode fazer o bem para este país”. E nas redes sociais postou mensagens eleitorais e de amor.
Exemplo: “Estou apaixonado e vou casar para mostrar minha confiança no futuro deste país”.
O véu dos noivos
Lula tenta, na medida do possível, garantir certa privacidade em seu casamento – como se isso fosse possível com 200 convidados, como se isso fosse possível quando o noivo é o ídolo de boa parte da população do país. Pede, por exemplo, que ninguém entre na festa com celulares; não divulgou o lugar em que ocorrerão cerimônia e festa; não divulgou o que será servido aos convidados.
Resultado: já há versões circulando na Internet com marcas de bons espumantes espanhóis, uísques, onze mesas de alimentos, divididas por origem: árabe, nordestina, japonesa, chinesa, frutos do mar, etc. Se a versão correta não vazar, vai prevalecer a versão dada por quem não esteve lá. E nesta versão, por exemplo, só há bebidas caras: nem se fala na marvada.
Acredite se quiser
A Comissão de Seguridade Social e Família da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei apresentado pela então deputada e pastora Flordelis dos Santos Souza, que institui o 15 de Maio como Dia Nacional do Apadrinhamento Afetivo. Flordelis está presa, acusada do assassínio triplamente qualificado de seu marido, o pastor Anderson do Carmo. (Ver mais no excelente site jurídico Espaço Vital - www.espacovital.com.br).