É difícil pensar em alguma foto mais grosseira, mais inoportuna, mais desumana que a de Eduardo Bolsonaro, aquele que o pai queria transformar em diplomata, cortando seu bolo de aniversário. Neste último domingo, justo no fim de semana em que um policial bolsonarista invadiu a festa de 50 anos de um eleitor de Lula e o matou a tiros, gritando “aqui é Bolsonaro”, o filho 03 do presidente divulga nas redes a foto de seu bolo de 38º aniversário, que exibia não velinhas nem estrelinhas, mas um revólver .38 de glacê. O filho 03, que o general Mourão, vice de seu pai, imortalizou com o apelido, imagine-se lá por que, de “Bananinha”, explicou que o bolo já estava encomendado. Sim, mas foi exibido por ele depois do crime, numa abjeta demonstração de desprezo pela vida de outra pessoa. Tirar o revólver de cima do bolo é o que faria qualquer pessoa normal. Mas que fazer, se ele queria demonstrar que o número 38 para ele significa um objeto destinado a matar?
O presidente Bolsonaro, com aquele soberano desprezo que ostenta pela vida dos outros, começou dizendo que não tinha nada a ver com uma briga de fim de semana. Tinha, claro: não foi ele que, em comício no Acre, fingia dar tiros e dizia que era preciso metralhar os petistas? Mas até Bolsonaro teve um gesto de gentileza, falando por telefone com o irmão da vítima.
Eduardo, não: queria lembrar seus 38 anos com um revólver, mesmo à custa do sofrimento de outros. E que é que exibirá no bolo daqui a 31 anos?
Enfim, um gesto
O presidente Bolsonaro demorou, mas ontem telefonou para o irmão do aniversariante assassinado. Na conversa, rápida, Bolsonaro deu os pêsames e condenou atos de violência na campanha eleitoral.
Talvez, pode ser, quem sabe?
Rodrigo Pacheco, do PSD mineiro, presidente do Senado, disse acreditar que os principais candidatos à Presidência, Lula e Bolsonaro, são contra atos violentos como o assassínio ocorrido na Foz do Iguaçu. Acha importante que os principais candidatos, “para evitar que o Brasil enfrente uma situação ruim em que nunca esteve”, apresentem na campanha suas ideias e propostas, não provocando confrontos “que possam levar a militância a algum tipo de ato mais agressivo em relação a quem pensa diferente”. Só há um problema: para que apresentem propostas e ideias, precisam tê-las. Até agora estão ocultas.
Começando a adivinhar
Há muita gente no PT preocupada com a PEC Kamikaze, a proposta de emenda constitucional que estourou o teto de gastos para dar auxílio de 600 reais aos mais carentes, subsidiar com mil reais os caminhoneiros e reforçar as verbas que os parlamentares continuam distribuindo às bases eleitorais. Parece que começam a perceber que o presidente Bolsonaro, distribuindo os auxílios, poderá se beneficiar, elevando seu contingente de eleitores. Pois é: Bolsonaro colocou Arthur Lira na Presidência da Câmara com votos de todos os lados, inclusive do PT e PSDB – parece que não sabiam que o Centrão é especializado em se juntar aos governos, que têm cargos a distribuir, e não à oposição. E a PEC Kamikaze passou no Senado quase por unanimidade, com o único voto contrário do senador José Serra. Bola quicando na área, por que o presidente da República deixaria de chutá-la, fazendo seu gol?
Água no chope
O PT pretende conter a euforia bolsonarista dizendo que o partido sempre foi favorável ao Auxílio Brasil, que se inspirou na Bolsa-Família petista, e que Bolsonaro só aceitou a medida perto das eleições, para dela se beneficiar. O problema é que, entre um partido que diz que a ideia é sua e um presidente que efetivamente distribui o dinheiro, em quem o eleitor despolitizado irá acreditar? É fato que, pela PEC Kamikaze, o Auxílio de R$ e o subsídio de R$ 1 mil terminam em dezembro. E daí? Daí as eleições já terão passado.
Simone é ótima, mas...
O MDB inteirinho vê em Simone Tebet uma companheira trabalhadora, de bons princípios, com quase todas as qualidades exigidas de candidatos à Presidência da República. Mas o fato é que ela ainda não conseguiu crescer nas pesquisas. E o MDB está alerta para isso: dez seções estaduais da legenda prometem apoiar Lula no primeiro turno. Amazonas, Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí e Rio Grande do Sul largaram no caminho a candidata do partido. Isso dificulta o crescimento de Simone. E, se ela não crescer, outras seções estaduais fecharão com outro candidato.
É mole?
Não, não bastava a maciça compra de genéricos de Viagra pelas Forças Armadas. De acordo com a área técnica do Tribunal de Contas da União, os preços também foram inflados. O Hospital Naval Marcílio Dias comprou 15.120 cápsulas de sildenafila 25 mg ao preço unitário de R$ 3,65. A média no Painel de Preços do Governo é de R$ 1,81. O Hospital Central do Exército fez suas compras por R$ 1,50.