Chata a campanha, né? Mas há mais coisas navegando no país além de jetskis livres de impostos. Em 1º de setembro, deve ser incorporado à Marinha o primeiro submarino fabricado no Brasil, o Riachuelo. Poucos dias antes, nas últimas semanas de agosto, o segundo submarino será lançado ao mar, para os últimos testes até ser incorporado à frota. Ambos são parte de um pacote de quatro submarinos classe Scorpene, de tecnologia francesa, propulsão convencional. Um quinto submarino de tecnologia francesa, com propulsão nuclear (embora com armas convencionais), está sendo produzido.
Objetivo: proteger as 200 milhas de mar territorial. Normalmente, o mar territorial tem 12 milhas, e o Brasil é uma exceção que, talvez, alguém queira contestar. Os submarinos ajudam bem a manter a ordem. E o Brasil tem mais uma reivindicação: que se considere mar territorial toda a área ocupada pela plataforma continental. Aí o mar territorial teria algo como 300 milhas.
A chave da segurança será o submarino nuclear. Como fica longo tempo submerso, ninguém sabe onde está; e qualquer tentativa de ocupar campos de petróleo submarino pela força perde o sentido se o Brasil puder retaliar com um submarino, digamos, invisível. Não falta muito para o submarino nuclear ficar pronto: a França pode oferecer aquilo de que precisamos.
Só que o presidente Bolsonaro andou fazendo desfeitas aos franceses (e com o apoio do ministro Paulo Guedes). Mas este problema é mais fácil de resolver.
Pensando fundo
Pensando bem, é melhor construir armas úteis para a defesa do país, desenvolvendo tecnologia, do que comprar armas de segunda mão para fazer desfiles contra a democracia e soltar fumaça preta em cidades já poluídas.
No fundo do poço
Os franceses venderam ao Brasil, com transferência de tecnologia, tanto submarinos convencionais quanto o nuclear. De onde Paulo Guedes tirou a ideia de que franceses e europeus estão se tornando irrelevantes para o país? E o que o levou a dizer que o ex-secretário da Receita Everardo Maciel, colaborador fiel de nosso site Chumbo Gordo (www.chumbogordo.com.br), “tributava tudo o que respirava, mas não há país que cresça com essa disfunção”?
Abriu campo para a resposta memorável de Maciel: “Isso não é verdadeiro, deixei involuntariamente de tributar muitas coisas, como as aplicações financeiras de brasileiros ricos em paraísos fiscais. Fica a dica. Vou cuidar de lembrar isso sistematicamente”.
Não, não é uma indireta a Paulo Guedes. É uma resposta direta, bem direta.
Falta de respeito
OK, ser chamado de “tchuchuca do Centrão” irritou Bolsonaro ao ponto de agarrar o youtuber que o xingava, e depois disso se dirigir agressivamente a seus próprios assessores. Só que não é assim que se faz política: o que o youtuber fez foi provocação, má-criação. A política deve substituir as guerras, trocar as armas pelas negociações, e não pode se reduzir a insultar adversários. As autoridades têm de ser preservadas desse tipo de insulto e de agressão.
Xingar é fácil – certa vez, um notável professor universitário, numa discussão com uma adversária política, chamou-a de prostituta, com 63 sinônimos. Para mim, bem jovem, foi muito instrutivo: aprendi palavras como “sutrão”, por exemplo. Mas a discussão não levou a nada, exceto a um ódio meio insano que não dá qualquer resultado que valha a pena. Política é política, xingação e troca de empurrões é apenas briga de barraqueiros.
Os sinais infalíveis
Numa campanha, todos se proclamam vencedores, todos garantem que as pesquisas que não confirmem suas teses são falsas, compradas, inúteis, todos garantem que ladrão mesmo é o que está do outro lado, não do seu. Mas há sinais inequívocos que não se pode deixar de levar em conta. O Centrão, por exemplo, apoia os candidatos que lhe derem melhores oportunidades, mas jamais deixará de mudar de lado se os adversários vencerem a eleição.
Leia com atenção o que diz o presidente da Câmara, Arthur Lira, até agora o mais fiel aliado de Bolsonaro: diz que 3 de outubro, dia seguinte ao das eleições, será absolutamente normal, ganhe quem ganhar, e a vida continua. Diz ainda que a campanha de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas não lhe dá votos.
Estarei vendo mais do que existe ou já há sinais de mudança de lado?
Um dia para lembrar
Em 19 de agosto de 1983, moças homossexuais protestaram diante do Ferro’s Bar, em São Paulo, que tinha começado a hostilizá-las – logo elas, a principal clientela do estabelecimento. O protesto foi liderado por uma moça inteligente, bem articulada, Rosely Roth, que morreu poucos anos depois. E foi homenageada no Dia do Orgulho Lésbico, nesta sexta, realizado no Museu Judaico, a antiga sinagoga Beth-El, em frente ao Ferro’s, já fechado. Este colunista, autor da reportagem da Folha de S.Paulo, foi citado por ter, pela primeira vez na grande imprensa, tratado com seriedade o movimento.