Coluna - Observatório da Imprensa
Um juiz de Macaé, RJ, determinou que o livro 50 Tons de Cinza e outras obras que qualificou de "eróticas" fossem apreendidas e só pudessem retornar às prateleiras em embalagem lacrada. Aquele saudável hábito de folhear os livros antes de comprá-los (ou até, em certas livrarias, de lê-los em confortáveis poltronas, sem que ninguém chateie o cliente) está vetado. Como ocorria na época da ditadura militar com revistas cujas fotos eram consideradas pornográficas (e que hoje circulam normalmente na Internet e fora dela, sem abalar em nada a segurança nacional), livros estão sendo embalados em papel opaco para que ninguém possa vê-los a não ser depois de comprá-los.
O Ministério Público Federal pediu que a Rede Globo fosse proibida de transmitir, durante o Big Brother Brasil, cenas que pudessem estar relacionadas à prática de crimes. Só que o BBB é transmitido ao vivo. Imagine um jogo de futebol em que, fora de si, um jogador quebre o pescoço de um adversário e o mate. A TV deve encomendar, sabe-se lá em que local, equipamentos com poder divinatório, para prever o futuro e saber quando suspender a transmissão?
A Justiça, ainda bem, negou o pedido de censura à TV. A juíza não disse, mas há na TV dois excelentes mecanismos de defesa da moral, dos bons costumes, dos hábitos da família, do bom-gosto, do controle do que pode ou não pode ser visto: o botão de troca de canais e o botão de desligar. Este colunista jamais viu as cenas que o Ministério Público considerou ultrajantes (uma cena em que um participante, oculto por um edredon, teria mantido relações sexuais com uma jovem adormecida), pelo simples e bom motivo de que não vê o programa, por livre e espontânea vontade. Não há lei alguma que obrigue qualquer pessoa a assistir à TV o tempo todo, nos canais preferidos da maioria.
A propósito, o inquérito a respeito do caso que provocou o pedido foi arquivado, sem que ninguém sofresse qualquer tipo de acusação.
De qualquer forma, esses tipos de iniciativa demonstram que, no Brasil, a ideia de que o Governo deve tutelar a população, indicando-lhe o que deve e o que não deve fazer, continua forte - tão forte quanto na época em que o país não tinha imprensa, mas tinha censura, e tão rígida que o primeiro jornal brasileiro não-oficial teve de ser editado em Londres. É preciso estar permanentemente alerta, para evitar que o cidadão comum seja obrigado a assistir, a ler ou a ouvir apenas aquilo que lhe determinam, queira ou não queira.
Guerra jornalística
Octavio Frias de Oliveira, o grande construtor da Folha de S.Paulo, costumava dizer que a vantagem de ser velho é ter visto tudo acontecer, e ao contrário também. É surpreendente que muitos jornalistas até hoje não tenham aprendido que o mundo gira, que o tempo voa, que quem dizia que Maluf, Lula e Collor ainda iam acabar juntos não era maluco, era profeta.
Não se pode falar em guerra ideológica, pois o que menos há nessa guerra é ideia. Mas temos de um lado grupos convencidos de que qualquer notícia que saia contra o ex-presidente Lula e seus partidários é automaticamente verdadeira (inclusive a de que ele tem sabe-se lá quantos bilhões de dólares em sabe-se lá quantas contas bancárias), enquanto outros grupos acham que qualquer notícia em favor do ex-presidente Lula é automaticamente verdadeira (inclusive a de que ele será eleito Prêmio Nobel da Paz). Outros grupos procuram demonstrar que qualquer denúncia que se faça contra Lula é inepta porque adversários do ex-presidente fizeram a mesma coisa em outras épocas.
Até aí, tudo bem: é até engraçado. A quantidade de bobagens de lado a lado, para quem conhece qualquer parte dos fatos (a última, por exemplo, de que Lula tem imóveis com pintura descascando, o que prova que ele não tem dinheiro sequer para mantê-los) ignora que ele mora num prédio em São Bernardo. Como um dos condôminos, pode até reclamar da pintura do prédio, se não a considerar em condições, mas não tem como contratar um pintor e fazer a obra sozinho.
O problema é que, de ambos os lados, a guerra se tornou pessoal e acabou várias vezes indo parar na Justiça. Um blogueiro informou que um importante executivo da Rede Globo tinha sido ator de filmes pornográficos. Besteira: se foi, e estava dentro da lei, ninguém tem nada com isso. E não foi: havia um homônimo, também conhecido, que foi mesmo ator de filmes pornográficos. E daí? Daí que a coisa foi parar na Justiça, como se não houvesse trabalho suficiente para ocupar os juízes. O acusador foi condenado em duas instâncias e reclama que o tribunal não teve senso de humor para entender a graça da piada.
Não pode: quando jornalista se envolve em guerras políticas a ponto de mover campanhas contra colegas, está extrapolando, deixando de ser jornalista para tornar-se político. E tudo aquilo de que o país não precisa é de mais políticos. De jornalistas, que tentem decifrar o que está acontecendo (com erros, com acertos, com opiniões contrárias às nossas ou não), disso precisamos e muito.
Chame a TV
Uma padaria, em Curitiba, foi assaltada 38 vezes. O dono chegou à conclusão de que chamar a Polícia era bobagem: não funcionava, mesmo. E chamou a TV. Resultado: os assaltantes vieram mais uma vez, mais uma vez assaltaram a padaria, não sem tomar um lanche reforçado antes de anunciar o assalto. E ainda prenderam repórter, repórter-cinematográfico e auxiliar, roubaram o carro da reportagem, celulares e outros equipamentos, além do dinheiro da padaria e alguns produtos ali expostos. Um dos criminosos, o mais violento, ameaçava matar um dos clientes só para que os reféns, pela primeira vez, vissem um morto na padaria. Polícia? Ali, como em outras grandes cidades do país, existe, mas não funciona. O ponto a que chegamos: não deu certo, mas o dono da padaria chegou a achar que uma equipe de reportagem de TV seria mais eficiente do que a Polícia.
Deve haver centenas de explicações, mas há uma pergunta a que nenhum meio de comunicação conseguiu responder até hoje: por que em outros países a Polícia não apenas funciona como tem a confiança dos cidadãos?
O médico, o jornalista
O slogan aqui é perfeito: não dá para não ir. Júlio Abramczyk, o lendário médico que sempre cuidou com perfeição do noticiário cientifico da Folha de S.Paulo (e ao mesmo tempo tratou da saúde de gerações de jornalistas, e manteve um consultório particular de alto prestígio, aliás merecidíssimo), lança o livro Médico e Repórter - meio século de jornalismo científico. Abramczyk acompanhou a evolução da Medicina e do Jornalismo nos últimos 50 anos e, excelente papo, sabe contar como as coisas aconteceram. Uma das grandes figuras da imprensa brasileira.
Lançamento no dia 29, terça-feira, a partir das 19h, na Livraria da Vila, do Shopping Higienópolis, São Paulo.
A rainha do traço
Magy Imoberdorf foi uma das rainhas da publicidade brasileira, enquanto se dedicou a isso (foi, entre outras coisas, uma das sócias da agência Lage, Magy). Grande artista plástica, deu uma pequena guinada na carreira (seu talento na área já transparecia na publicidade) e passou a dedicar-se ao desenho.
Magy nasceu na Suíça, formou-se em Artes Gráficas em Lausanne, veio para o Brasil, onde cresceu como publicitária e se naturalizou brasileira. Vive hoje entre Berlim e Santana do Parnaíba, SP. Desenha magnificamente - e, nesta exposição, que começou dia 22, na Galeria Mônica Filgueiras & Eduardo Machado (Rua Bela Cintra, 1533), mostra obras de primeira linha. Vai até 16 de fevereiro: de segunda a sexta, das 10 às 19h; aos sábados, das 10 às 14h30.
Nessa exposição, de 25 desenhos, cada um composto de várias folhas de poliéster, que permitem modificar a obra, Magy mostra "o vai e vem das pessoas, cada vez mais anônimas e cada vez mais indo e vindo sem saber de onde ou para onde".
Como...
De um press-release absolutamente notável: