Coluna - Observatório da Imprensa
Um grande temporal em São Paulo inunda até bairros altos, isola escolas, paralisa o trânsito, faz com que carros flutuem até que batam em outros, desliga os sinais de trânsito, transforma em caos a maior cidade do país.
Que diz o prefeito? Nada: Fernando Haddad, que tomou posse há quase dois meses, evaporou-se. A imprensa, com as águas da chuva, derreteu-se. Não houve declarações do prefeito à TV, ao rádio, aos jornais, à Internet; não houve sequer aquela frase clássica, "procurado, o prefeito não foi encontrado".
De duas, uma: ou a imprensa não procurou Sua Excelência ou procurou camuflar sua ausência. De qualquer maneira, é um comportamento antijornalístico, um desrespeito ao consumidor de informações. Não que o prefeito seja o culpado pelas enchentes: do jeito que choveu, a cidade ficaria inundada mesmo que ele tivesse (como prometeu) mandado limpar todos os bueiros, varrer até o último palito de fósforo das calçadas, recolher todos os sacos de lixo. Mas desaparecer na primeira dificuldade que enfrentou é estranho. E a imprensa fingir que não percebeu o desaparecimento é mais estranho ainda.
Não seria justo exigir que um prefeito com tão pouco tempo de exercício do mandato seja julgado por seu desempenho. Mas também não é justo, com a população, que faça de conta de que não é com ele. Esquecer que o compromisso da imprensa é com quem a vê, ouve ou lê, preferindo trabalhar para proteger o prefeito da exposição, é ocultar informações.
A presidente Dilma Rousseff, que ajudou Fernando Haddad a eleger-se, viajou a Santa Maria, para levar pessoalmente sua solidariedade às famílias enlutadas pelo incêndio da boate Kiss. Haddad, que não faltou a um desfile das escolas de samba paulistanas, preferiu dar uma de Sérgio Cabral, que na hora em que enfrenta problemas sempre tem uma excelente desculpa para sumir de cena. Falhou na hora de solidarizar-se com as vítimas das enchentes e de ver ao vivo, pessoalmente, as destruições provocadas pelo temporal. E a imprensa, ao trocar a informação por bom-mocismo, falha mais ainda.
O ex-papa e o futuro papa
Este colunista não entende a polêmica a respeito das necessidades da Igreja Católica. Com seus dois mil anos de vida, com mais de um bilhão de seguidores, a Igreja sabe perfeitamente do que precisa para continuar sua jornada, e pode dispensar palpites de quem mal sabe a diferença entre um báculo e uma hóstia. Os cardeais são selecionados pela inteligência, conhecimentos, visão política, capacidade de articulação (pois, se não a tivessem, não chegariam lá). Quantos não cardeais poderiam enfrentar cardeais num debate?
A Igreja Católica, Apostólica, Romana, é o que é; quem não a aprecia, quem discorda de seus ensinamentos, não é obrigado a segui-la. Se o cavalheiro acredita que o fenômeno da transubstanciação é impossível e não existe, não é católico; se não acredita nos ensinamentos de Jesus, católico não é. Exigir que a Igreja se transforme para atender aos anseios de cada um para então segui-la é excesso de soberba.
Caso não queira segui-la, ou siga apenas alguns de seus ensinamentos e dogmas, tudo bem, é questão de escolha pessoal. Este colunista, como judeu, acompanha o debate teológico da Igreja Católica à distância, apenas para estar informado. Se a Igreja desaprova o uso da camisinha e rejeita o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é questão da Igreja, e não influi nem sobre o comportamento nem sobre a opinião do colunista. Ler textos em que pessoas se consideram perseguidas pessoalmente por ser homossexuais ou por ter feito um aborto e exigem que a Igreja mude para atendê-las é muito cansativo, incompreensível.
A Igreja, certamente, não deve interferir na vida civil, tentando impor suas ideias a quem não seja católico ou não queira segui-las; que emita normas religiosas, para quem as aceita, sem querer adaptar a suas teses as leis de um Estado laico. E quem quiser viver sem levar em conta as ideias da Igreja que seja livre para fazê-lo, independentemente da opinião do papa, dos cardeais ou dos bispos.
Por isso é difícil entender os partidos pró-Bento 16 e contra Bento 16 que proliferam nos meios de comunicação - há textos em que o ódio à Igreja transparece, como um que reclama daquele fio de fumaça negra quando o novo papa não foi eleito e o fio de fumaça branca quando o novo papa é escolhido (na opinião do comentarista, isso contribui para a poluição e deveria ser eliminado).
Que cada um siga seu caminho, pronto. Aliás, este colunista vai ainda mais longe: há corrupção no Vaticano? Deve haver, claro: uma organização deste tamanho dificilmente estaria imune aos pecados do mundo. Mas este é um problema do Vaticano, não de quem esteja de fora. Como dizia um jornalista de alta linhagem, o José Carlos Del Fiol, que foi subsecretário de Redação da Folha por muitos e muitos anos, se o dinheiro não é seu nem meu, por que vamos nos preocupar com ele?
Deve haver corrupção, deve haver pessoas da mais alta hierarquia envolvidas com atos antissociais, deve haver gente insuspeitíssima cometendo crimes (aliás, numa organização que teve o papa Borgia e sobreviveu a ele, por que pessoas hierarquicamente inferiores não teriam deslizes de menor ou maior gravidade?)
Há, claro (e muitos casos já foram revelados publicamente), inúmeros e horrendos episódios de pedofilia -e não é pagando indenizações, como tem ocorrido com frequência, que se obterá o esquecimento desses crimes. É com julgamentos civis, condenações aos culpados, tudo associado à perda de prerrogativas eclesiásticas.
Mas a Igreja Católica não teria sobrevivido durante tanto tempo se fosse apenas isso: é também uma fonte de fé para muitas pessoas, é também um exemplo de apreço à cultura, às artes e às letras. Música, escultura, pintura, arquitetura, tudo da melhor qualidade, nasceu em função da Igreja Católica; foram monges católicos que, enclausurados em seus mosteiros, copiaram obras clássicas e permitiram que chegassem a nós.
Não gosta do papa? Continue não gostando. Não gosta da linha da Igreja? Não a siga. Acredita em outra divindade? Sem problemas. Discorda do celibato dos sacerdotes? Não queira ser sacerdote - deixe esta função para quem aceite as normas disciplinares a ele impostas. Mas gastar o papel tão caro de jornais e revistas e desperdiçar a paciência do consumidor de informação por achar que uma instituição com dois mil anos de idade e um bilhão e meio de seguidores tem de se adaptar às suas preferências pessoais, convenhamos, é meio muito.
Quem é o responsável?
Há alguns anos, os assinantes de O Estado de S. Paulo ganharam o direito de utilizar o domínio @estadao.com.br. O tempo passa, o tempo voa, a poupança daquele banco não continua numa boa - mas quem é que cuida do domínio, hoje?
Um leitor assíduo desta coluna, o blogueiro James Akel, escreve:
"Sou assinante do jornal O Estado de São Paulo há muitos anos e tinha email no webmail estadao.com.br. Na manhã do dia 15, o e-mail começou a dar problemas de acesso, o que incluiu aparecerem outros nomes no lugar do meu. Então telefonei ao Grupo Estado, (11) 3856-2122, e falei com o setor de mídias digitais.
"Assustei-me ao ser informado de que o Grupo Estado não tem nenhuma responsabilidade mais sobre o webmail estadao.com.br. Então perguntei quem é o atual responsável por tal webmail, que guarda tantas correspondências sigilosas de tantas pessoas.
"Responderam-me simplesmente que ninguém é responsável pelo webmail estadao.com.br.
"Se esta é a responsabilidade que eles têm sobre produtos com suas marcas que foram entregues a assinantes e que guardam tantas trocas de e-mails de grande importância, começo a ter minhas dúvidas sobre o Grupo Estado. Mudei de imediato para o webmail uol.com.br.
"O atual comando do Grupo Estado, se é que existe algo ainda eficiente lá dentro, pode pegar a fita que deve ter sido gravada no dia 15 de fevereiro, perto das 11h30 da manhã, e verificar."
Caro James, é provável que o cavalheiro que o atendeu não tenha a menor ideia do que fala. Mas não fomos nós que o escolhemos: foi a empresa. E ele, seja ou não treinado, saiba ou não o que diz, fala em nome da empresa. É triste!
Alô, advogados!
Um livro essencial para quem trabalha com Direito sai nesta quarta-feira, 20, a partir das 18h: o Anuário da Justiça São Paulo 2013, edição da revista eletrônica Consultor Jurídico (www.conjur.com.br). Local: Tribunal de Justiça de São Paulo, na Praça da Sé, Salão dos Passos Perdidos.
Para confirmar presença, o e-mail é secretaria@consultorjuridico.com.br
Policial brasileiro
Também nesta quarta, 20, um pouquinho mais tarde, a partir das 19h30, Carlos Castelo, um dos criadores do grupo Língua de Trapo (e autor de sete livros de humor, redator publicitário, compositor, fotógrafo, continuísta no cinema da Boca do Lixo) lança sua primeira novela policial: Damas Turcas.
Castelo é talentoso: se o livro é dele, a leitura deve ser bem agradável. Local: bar Canto Madalena, rua Medeiros e Albuquerque, 471, São Paulo.
Boa exposição
A partir desta terça, 19, um programa interessante: Luciano Bortoleto expõe Um lugar de morada, na galeria Gravura Brasileira (rua Dr. Franco da Rocha, 61, São Paulo). Bortoleto, a partir de gravações em metal cedidas por outro artista, Guilherme Cota, acrescenta detalhes pessoais e cria um simpático espaço de convivência dos personagens em espaços que funcionam como abrigos. Um belo trabalho de artes plásticas.
Como...
Do editorial de um grande jornal impresso, de circulação nacional: